MercadoLibre luta contra transporte mais caro no Brasil

Por Carolina Millan.

A maior empresa de comércio eletrônico da América Latina está combatendo os aumentos nos fretes dos Correios no Brasil — e se prepara para elevar os próprios preços se perder a batalha.

O MercadoLibre está negociando com os Correios a suspensão do aumento de preço, programado para entrar em vigor em 6 de março. O incremento é de 29 por cento, em média, disse Sean Summers, vice-presidente de mercado da empresa. Apesar de os Correios terem afirmado em comunicado, em 27 de fevereiro, que o aumento médio será de 8 por cento, o executivo disse que os números gerais são mais elevados dependendo das rotas. Os Correios não forneceram detalhes a respeito dos aumentos em rotas individuais.

O MercadoLibre está negociando com os Correios, mas se não houver acordo nos próximos dias, o MercadoLibre elevará os preços para os clientes já na segunda ou na terça-feira, disse Summers. A vendedora on-line de materiais esportivos Netshoes também entrou nas negociações, disse. A Netshoes não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

“Não quero aumentar os preços, porque isso prejudica o desenvolvimento do comércio eletrônico e de meu negócio. Mas se não pudermos resolver o problema, não teremos escolha”, disse Summers. “É um aumento abusivo, que acabará sendo pago por compradores e vendedores. Esse comportamento é típico de um monopólio.”

Summers observou que os Correios têm grande domínio das entregas no Brasil. Um relatório do Goldman Sachs pontuou que um aumento médio de 8 por cento no preço reduziria o Ebitda ajustado consolidado do MercadoLibre em 15 por cento em 2018. Um aumento médio de 29 por cento teria “um impacto substancial na lucratividade”, destacou um relatório anterior.

Frete grátis

A disputa se dá em meio ao lançamento da política de frete grátis da empresa na Argentina. O MercadoLibre investirá 1 bilhão de pesos (US$ 49,6 milhões) neste ano para subsidiar as entregas no país, valor que pode subir dependendo do aumento das vendas, disse Summers. A política, iniciada no México no começo de 2017 e lançada no Brasil, no Chile e na Colômbia, gerou um aumento médio de 30 por cento no número de compradores em toda a região, disse Summers. Faz parte também de um programa de pontos de fidelidade que futuramente permitirá retornos grátis e descontos, acrescentou Rocío Jalil, diretora do MercadoPuntos.

O transporte gratuito é uma das iniciativas da empresa voltadas à expansão da participação de mercado em meio aos preparativos da Amazon.com para se expandir no Brasil, adicionando um mercado de eletrônicos à livraria on-line. O MercadoLibre obtém 60 por cento de suas receitas no Brasil.

A política, no entanto, continua pressionando os lucros. A margem bruta caiu para 47 por cento no quarto trimestre, contra 64 por cento no mesmo período do ano anterior. Mas a iniciativa parece estar gerando resultados. A receita brasileira cresceu 82 por cento em dólares, impulsionada pelo frete gratuito e pelo programa de fidelidade. Os resultados da empresa têm sido tão notáveis que o JPMorgan elevou o preço-alvo da ação para US$ 500, contra um máximo de US$ 270 em Wall Street, prevendo crescimento substancial das vendas brutas e das operações de crédito e pagamentos.

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