Praticada há algum tempo por países desenvolvidos para estabilizar o mercado financeiro em períodos de recessão, a política monetária de quantitative easing (QE) (ou afrouxamento quantitativo), chegou também aos mercados emergentes. No Brasil, sua aplicação foi prevista pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC), 10/2020, promulgada em 6 de maio de 2020, sobre o orçamento de guerra para reduzir impactos na economia causados pela pandemia de COVID-19. Uma das medidas da nova regulamentação autorizou o Banco Central do Brasil (BCB) a comprar títulos de crédito privados no mercado secundário para dar maior liquidez ao segmento. Com isso, o país passou a aplicar o QE.
Por ser um assunto em pauta na economia nacional, a Bloomberg realizou uma live sobre “QE no mundo de emergentes e no Brasil”, parte da programação da Sell Side Mid-Week Live, uma série de webinars com especialistas do mercado financeiro.
A live foi conduzida pela economista-chefe da Bloomberg para Brasil e Argentina, Adriana Dupita, e pelo especialista em produtos de renda fixa da Bloomberg, Sandro Amorim. Eles mostraram como operações de QE pelos bancos centrais de economias emergentes podem estabilizar os mercados financeiros. A apresentação também abordou ferramentas para facilitar o dia a dia do trading com operações de quantitative easing.
Veja abaixo os principais pontos da live. E caso queria conferir a transmissão na íntegra, clique aqui.
Como funciona a política monetária de QE
Dupita explicou que a política de QE é uma ferramenta de política monetária não muito convencional usada pelos países mais avançados. Sua aplicação acontece quando as taxas de juros chegam próximo de zero. Com a pandemia de COVID-19, economias emergentes decidiram também recorrer ao quantitative easing. Porém, para atender a necessidades diferentes, segundo esclareceu a economista.
Quando a crise do novo coronavírus começou, muitos desses países já estavam praticando taxas baixas de juros, o que, no entender de Dupita, abre pouco espaço para novos cortes. Ela observou que a maioria dos mercados emergentes da Ásia, África, Europa e das Américas já tinha começado em 2020 cortando suas taxas de juros.
Em alguns países, as taxas de juros estavam próximas de zero, conforme dados da Bloomberg apresentados durante a live, como é o caso da Tailândia, do Chile e do Peru
Motivação para QE em tempos de pandemia
Alguns fatores motivaram países emergentes a adotar QE com a crise gerada pela pandemia do coronavírus. A economista-chefe da Bloomberg elencou alguns desses motivos:
- COVID-19 é, em tese, um choque temporário de oferta (via queda de produtividade);
- Queda de preços dos ativos, se percebida como temporária e proporcional à queda da atividade, não tem maiores consequências; e
- Tolerância média ao risco da economia pode cair na presença de investidores (tomadores de risco) muito alavancados ou se o choque for muito grande e percebido como de longa duração
Três mecanismos para mitigar
- Deixar preços de ativos cair livremente (pode levar à recessão de demanda);
- Cortar juros básicos; e
- Banco Central pode absorver risco do mercado.
Ouça as explicações de Dupita sobre QE em mercados emergentes
Brasil rumo ao QE
O Brasil ganhou a opção de usar QE após a aprovação da PEC do orçamento de guerra, que permitiu ao Banco Central comprar e vender títulos privados de crédito em mercados secundários. Serão elegíveis para essa operação títulos com prazo de vencimento superior a um ano e com determinadas características. Confira a seguir algumas das regras sobre a nova atuação do Banco Central do Brasil:
BCB como “price taker”
- Não pode ter mais que 25% da emissão (35% se for PMES);
- Emissor não pode representar mais que 7% da carteira de títulos do BC; e
- Estas restrições só valem depois da carteira de títulos do BC alcançar BRL 1 bilhão.
BCB pode reabsorver liquidez com compromissadas
- Se for isso mesmo, deixa claro que o objetivo não é injeção de liquidez;
- Objetivo parece ser de absorver risco do mercado;
- Redução de risco de liquidez amplia demanda por títulos privados e incentiva emissão no mercado de capitais;
- Com grandes empresas emitindo, bancos podem alcançar capital para PMEs; e
- Detalhamento do QE foi anunciado em conjunto com medidas de direcionamento de crédito para PMEs e alívio para bancos pequenos.
Ao fazer uma leitura sobre a atuação do BC no mercado secundário, a economista-chefe da Bloomberg apresentou dados que apontam que o QE à brasileira servirá para destravar emissões de títulos privados.
Acompanhe o áudio de Dupita sobre o tamanho de QE no Brasil
Ferramentas para analisar o novo mundo do QE
Durante a live, Sandro Amorim, especialista em produtos de renda fixa da Bloomberg, informou que algumas ferramentas estão sendo adicionadas ao Terminal da Bloomberg para que os profissionais de trading possam fazer análises rápidas de crédito local e debêntures do Banco Central, seguindo critérios do programa de QE.
Ele ensinou como fazer buscas e filtrar títulos de debêntures elegíveis para operações com o BC, usando a funcionalidade SRCH<GO>. A Bloomberg incluiu alguns campos para análises com maior velocidade, como, por exemplo, por vencimento dos títulos, já que a normatização do Banco Central estabelece compras de papéis com prazos acima de um ano.
Amorim aproveitou para mostrar duas novidades recentes que a Bloomberg incluiu no Terminal. Uma delas é a função “Escritura de Emissões”, que pode ser acessada pela função CF<GO> e faz a consolidação de diversos dados sobre títulos de debêntures, eliminando a necessidade de consulta a diferentes bases de informações. O outro recurso novo é a ampliação da fonte de preços BVAL para esse tipo de papel.
Ouça os insights de Amorim para buscas rápidas de debêntures
A Bloomberg está criando caminhos alternativos e soluções eletrônicas para automatizar operações de trading e entregar informações consolidadas, para que os profissionais sejam mais velozes nas decisões de negócios. Para saber mais sobre as ferramentas eletrônicas da Bloomberg para negociações com produtividade e eficiência, clique aqui.