Mesmo com dúvidas sobre inflação, bancos centrais acompanham Fed

Por David Goodman e Enda Curran.

Alguns dos maiores bancos centrais do mundo estão dando pequenos passos para se distanciar do dinheiro fácil, embora as perspectivas incertas para a inflação sugiram que eles precisam avançar com mais cautela.

O Banco da Inglaterra elevou as taxas de juros na semana passada ao maior patamar desde 2009 apesar de o presidente da autoridade monetária, Mark Carney, ter revelado temor pela probabilidade “incomodamente elevada” de que ocorra um Brexit duro. O Banco Central Europeu, apesar de preocupado com o protecionismo comercial, está acabando com as compras de títulos e se prepara para um possível aumento do juro no ano que vem. O Banco do Japão manterá seu enorme programa de estímulo devido à inflação baixa, mas também dará mais espaço para que os rendimentos dos títulos subam.

“Três dos principais bancos centrais do mundo estão elevando os juros apesar dos aspectos macroeconômicos”, disse Ralf Preusser, diretor global de estratégia de juro do Bank of America em Londres, à Bloomberg Television, nesta semana. “Não consigo lembrar de uma época em que estivemos nesse tipo de posição. Definitivamente é algo novo.”

Apenas o Federal Reserve dos EUA e o Banco do Canadá, entre os bancos centrais do Grupo dos Sete, enfrentam o tipo de força econômica e pressões de preço que normalmente justificam o aperto monetário.

A mudança de ânimo global sugere que as autoridades estão dispostas a começar a mexer nos cenários de política de emergência que dominaram a última década em uma aposta de que o crescimento global sólido em breve estimulará a inflação. Elas temem que qualquer atraso possa criar efeitos colaterais nos mercados financeiros ou deixá-los sem munição na próxima recessão.

No Reino Unido, a inflação acima da meta é um legado da desvalorização da libra após o referendo do país sobre a saída da União Europeia. Os aumentos dos preços estavam diminuindo em relação à alta antes mesmo de o Banco da Inglaterra aumentar o juro, e o futuro está obscurecido pelo risco de que as negociações das condições do divórcio da UE se desmoronem.

As autoridades do BCE pretendem deixar para trás as medidas voltadas à crise após anos de uso intenso da caixa de ferramentas políticas. O programa de flexibilização quantitativa do banco chegará a 2,6 trilhões de euros (US$ 3 trilhões) em dezembro — volume tão grande que conflita com as restrições autoimpostas em alguns mercados à quantidade de títulos que a autoridade monetária pode comprar –, e o presidente do BCE, Mario Draghi, abriu a possibilidade de elevar o juro antes do fim de seu mandato, em outubro de 2019. A taxa básica, de menos 0,4 por cento, é a mínima histórica.

Já o Banco do Japão manteve diretrizes elevadas para a compra de títulos e vem reduzindo constantemente o ritmo das aquisições desde o fim de 2016. Apesar de ter acabado de adicionar pela primeira vez uma orientação futura de política monetária (forward guidance) à sua declaração de política, prometendo manter as taxas de juros baixas por “um período prolongado”, o banco também acrescentou mais flexibilidade à sua política de controle da curva do juro. O resultado provável é que os rendimentos de 10 anos subirão até 20 pontos-base acima da meta de zero por cento.

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