Meta de inflação. Está na hora de ousar?

Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de George Lei.

A aproximação da reunião do Conselho Monetário Nacional nesta quinta-feira levanta no mercado a discussão sobre a possibilidade de o Banco Central reduzir a meta de inflação, que tem sido de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, desde 2006.

Com a inflação em 12 meses este ano em 8,8%, perto do dobro do centro da meta, e o mercado ainda projetando IPCA de 5,5% em 2016, eventual mudança teria que mirar prazos mais longos. De 2017 em diante, tanto o mercado quanto o BC já veem o IPCA convergindo para 4,5%. Ou seja, mesmo no caso de uma meta ou intervalos mais estreitos, o esforço adicional necessário — leia-se alta de juros — seria reduzido.

A meta brasileira de 4,5% ao ano é alta mesmo quando comparada aos demais países latino-americanos que também seguem regimes de metas. México, Chile, Colômbia e Peru têm metas entre 2% e 3% ao ano com intervalo de flutuação de 1 ponto percentual. E, mesmo com metas mais apertadas para cumprir, nossos “hermanos” têm sido mais bem-sucedidos, tanto em termos de controle da inflação quanto de ritmo de crescimento.
 

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Enquanto a inflação brasileira em 12 meses superou a meta em todos os últimos cinco anos até 2015, o Chile e a Colômbia tiveram IPCs médios perto da meta em 2 anos, abaixo da meta em um e acima do objetivo em 2 anos. México e Peru tiveram menos sucesso no cumprimento da meta, mas ainda assim seus índices foram muito menores do que os brasileiros. A maior inflação mexicana média dos últimos 5 anos, por exemplo, a de 2012, foi inferior à menor taxa média brasileira no período.

E para quem ainda defende a idéia de que meta de inflação mais rigorosa leva a juros maiores e menos crescimento, os nossos vizinhos são uma contra-prova. Todos eles praticam juros menores que os brasileiros. Quanto ao PIB, o desempenho médio anual do Brasil só não foi o pior dos quatro em 2013, quando o México cresceu menos e a expansão brasileira foi a 2ª pior. Este ano, o Brasil é o único dos cinco em recessão.

Se ter uma meta maior não ajudou o Brasil a crescer mais nos últimos anos, não seria hora de baixar a meta? Segundo reportagens recentes nos jornais, existe a possibilidade de uma mudança na meta ser discutida no CMN, mas a redução mais provável seria no intervalo, hoje de 2 pontos percentuais, e não na meta central. Entre os economistas do mercado, em geral a redução da meta é defendida, mas considerada pouco viável agora, pois o governo teria receio de uma meta menor exigir uma alta mais forte da Selic, aprofundando a recessão, ainda que momentaneamente.

“Eu acredito que seja muito difícil qualquer mudança na meta agora. Mas isto poderia ser positivo”, diz Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC e economista-chefe da Ice Canyon LLC. O CMN poderia ser mais “realista”, elevando a meta para 2015 e 2016 e, ao mesmo tempo, sinalizar uma redução da meta para 3% no longo prazo. “Isso poderia ajudar a aumentar um pouco a credibilidade de um BC que tem tido baixa credibilidade”.

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