Por George Lei com a colaboração de Daniel Grillo.
O saldo de superávit primário do Brasil está alarmantemente parecido com os níveis de água no coração da zona industrial de São Paulo. Ambos estão abaixo de suas médias sazonais e longe do que o país precisa para evitar ainda mais deterioração.
Embora o governo tenha tentado pressionar, por meio da austeridade fiscal, vai ter dificuldade de atingir o superávit primário de 66 bilhões de reais, ou 1,1 por cento do PIB projetado para 2015. Análises feitas pelo Banco Central, na semana passada, apontavam que o Brasil iria atingir apenas 0,8 por cento do PIB de superávit neste ano.
O superávit primário em abril foi de 32 bilhões de reais. Mas como porcentagem do PIB, o Brasil ainda acumulava um déficit de 0,76 por cento nos últimos 12 meses até abril, o que significa que precisa elevar o saldo em 1,9 ponto percentual para atingir a meta de superávit.
O Brasil consegue fazer isso? O histórico de gestão de Orçamento desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu, em 2011, mostra que o balanço cumulativo dos quatro primeiros meses contribui com 69 por cento, em média, do total anual, o que sugere que o país pode estar fora do rumo.
As medidas de austeridade já em andamento podem colocar o Brasil sobre uma base mais sólida. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aumentou os impostos sobre bancos, combustível e importações e está cortando gastos. O governo ganhou um reforço na semana passada, quando o Congresso aprovou medidas para limitar pensões e reduzir os benefícios para desempregados.
Apesar disso, o câmbio reflete temores de que o Brasil não vá atingir sua meta de 1,1 por cento de superávit. O real se valorizou em 2 de junho, depois que a estatal Petrobras vendeu 2,5 bilhões de dólares em títulos de 100 anos, mas desvalorizou 5 por cento em maio e foi a moeda de país emergente com o pior desempenho nos cinco primeiros meses, com 15 por cento de queda.
O Brasil precisa fazer progressos fiscais consistentes para convencer os investidores globais e agências de risco de que o pior passou. Até que isso aconteça, bons números esporádicos não serão suficientes para restaurar a credibilidade do governo.