Moedas ruins criam problemas entre vizinhos nos Andes em meio a queda do petróleo

Por Andrea Jaramillo, Nathan Gill e Andrew Rosati.

Qual é o melhor regime cambial para uma economia baseada no petróleo? Essa pergunta se tornou premente após o choque dos preços do petróleo. Em um determinado ponto nos Andes, três vizinhos chegaram a respostas diferentes — e as coisas estão se tornando caóticas nas áreas fronteiriças onde seus incompatíveis sistemas se encontram.

O peso flutuante da Colômbia despencou junto com o petróleo; a Venezuela combina controles de preços com um câmbio fixo, que está bastante sobrevalorizado pelas taxas oficiais, e o Equador utiliza o dólar americano. O resultado é um benefício para quem consegue arbitrar as diferenças e um pesadelo para as autoridades que tentam eliminá-las.

Um estado de sítio está em vigor em algumas faixas ao longo da fronteira da Venezuela com a Colômbia, para cujas vilas o presidente Nicolás Maduro enviou tropas com o objetivo de impor bloqueios, desencadeando um êxodo massivo de migrantes. Os alvos declarados são os contrabandistas que buscam fazer negócios e lucrar com a diferença nos preços.

Considerando que você os consiga na Venezuela, com sua economia assolada pela escassez, produtos como leite, xampu ou pasta de dente podem ser vendidos na Colômbia por diversas vezes o preço de compra — até 1.000 vezes, no caso da gasolina –. É por isso que a Venezuela mantém taxas de câmbio fixas, mesmo que o mercado negro tenha saído de cena em meio à inflação galopante.

Cidade fantasma

Centenas de quilômetros a sudoeste, o problema também está crescendo e tem raízes semelhantes. A queda do petróleo empurrou o peso da Colômbia para uma baixa recorde no mês passado: caiu 35 por cento em relação ao dólar nos últimos 12 meses. Isso torna os produtos do país mais baratos para qualquer pessoa que tenha dólares para gastar — como os equatorianos –. O país vizinho, o Equador, também exporta petróleo, mas não tem sua própria moeda, tendo adotado o dólar durante um período de inflação há uma década e meia.

O resultado é que o comércio está sendo sugado na fronteira e o lado equatoriano se tornou uma cidade fantasma. Enquanto isso na cidade de Ipiales, na Colômbia, o negócio está crescendo.

O presidente do Equador, Rafael Correa, tem tentado reprimir as farras de compras nas fronteiras, limitando a quantidade que os equatorianos podem levar para casa e impondo tarifas de até 45 por cento sobre produtos que chegam por terra da Colômbia.

Correa, um aliado socialista de Maduro, não é fã do regime dolarizado que herdou. “Esse é um dos erros históricos, uma armadilhas que eles deixaram para nós”, fulminou o presidente no mês passado. Trata-se de uma reclamação que ele repete regularmente, sugerindo que se fosse fácil mudar um regime cambial, Correa já teria mudado.

‘Camisa de força’

No experimento cambial andino, o regime flexível da Colômbia está surgindo como vencedor. Economistas consultados pela Bloomberg estimam que a economia colombiana crescerá 3 por cento neste ano, quase duas vezes mais que a do Equador.

No caso do Equador, “não contar com políticas monetárias e cambiais em um momento como esse é uma camisa de força”, disse o economista do Credit Suisse, Juan Lorenzo Maldonado. “Não se pode absorver o choque”.

A situação da Venezuela é ainda pior. O Fundo Monetário Internacional diz que a economia do país encolherá todos os anos até 2019 — uma perspectiva pessimista que não é igualada por nenhum outro país da América Latina e do Caribe que o FMI pesquisa.

Regimes cambiais

Nenhum regime cambial funciona bem para todos o tempo todo, é claro. Os investidores estrangeiros em dívidas locais da Colômbia tiveram que engolir um prejuízo médio de 34 por cento em dólares em meio à queda do peso. Os colombianos têm que pagar mais pelas importações, empurrando a inflação ao nível mais alto em seis anos. E embora o crescimento econômico esteja perdendo força, os traders estão apostando que o banco central em breve terá que elevar a taxa de juros, que está em 4,5 por cento há mais de um ano.

Os estrategistas de política cambial da Colômbia também conhecem as adversidades de um câmbio flutuante durante os períodos de prosperidade do petróleo. Pode parecer fruto de memória curta agora, mas há pouco tempo a Colômbia vivia reclamando da sobrevalorização do peso. “É a mãe de todos os problemas”, dizia o ministro das Finanças, Mauricio Cárdenas, em 2013.

Olhando para os vizinhos hoje, é possível que ele concluísse que existem problemas piores.

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