Monet é melhor que a bolsa? Avaliando arte como investimento

Por James Tarmy.

Todo mundo adora histórias sobre colecionadores que compraram obras de arte por trocados e venderam por milhões. Muito raramente, elas acontecem. No entanto, paisagens e retratos de impressionistas como Monet, Renoir e Degas muitas vezes eram considerados investimentos antes de a tinta secar.

Na década de 1920, o investimento em quadros do Movimento Impressionista era tão disseminado que a correspondente da revista New Yorker em Paris, Janet Flanner, escreveu em 1926 que “com as moedas e ativos industriais na Europa flutuando destrutivamente, a arte moderna importante, se comprada de modo antecipado e modesto e não atrasado e caro, ainda é o investimento mais vistoso daqui”.

Ainda não está claro se continua vistoso. Em termos absolutos em dólar, os preços pagos pelas pinturas nos anos 1920 não são nada perto do que valem hoje. Mas como se comparam a investimentos mais tradicionais, como as ações mais líquidas da bolsa de valores?

Para fazer esta análise, usamos duas obras que serão leiloadas em Nova York no mês que vem e comparamos seus preços ao longo do tempo com o índice Dow Jones.

Graças a compilações conhecidas como catálogos raisonnés, todas as obras feitas por Monet são conhecidas. O que não se sabe é por quanto e com que frequência todos esses quadros foram vendidos. Muitas transações no mercado de arte são conduzidas a portas fechadas.

Também são desconhecidas as circunstâncias dessas transações no passado. A arte vale tanto quanto o comprador está disposto a pagar. Se um quadro foi colocado à venda em um período de volatilidade econômica ou vendido em uma situação de dificuldade (divórcio, morte ou endividamento) por valor abaixo do preço de mercado.

Também é preciso levar em conta a qualidade do trabalho: se uma pintura é considerada feia ou não reflete perfeitamente o estilo do artista, fica injusto fazer uma extrapolação de seu desempenho individual para o mercado daquele artista de modo geral.

Fatores externos sempre afetam preço e desempenho de uma obra de arte. Para quem pagou US$ 65.000 por um quadro em 1962, não importa se isso aconteceu sob circunstâncias favoráveis ou tristes, se é “bom” ou “ruim”. O que ainda importa, 55 anos depois, é se a compra foi um ato visionário ou uma extravagância perdulária.

Os quadros

Em nossa avaliação, consideramos os dois Monets mais valiosos oferecidos pela Sotheby’s na Venda de Arte Moderna e Impressionista, marcada para 14 de novembro. O primeiro, Les Arceaux de Roses, Giverny, é uma pintura a óleo de roseiras em arcos com 94 centímetros de largura, de 1913, que o próprio pintor ofereceu para ser leiloada com fins de caridade em maio de 1917.

O primeiro registro de venda é de 45 anos depois, na Sotheby’s, por US$ 65.000. Aquele comprador vendeu a obra no mesmo ano, 1962, na Christie’s, em Londres. O quadro permaneceu em uma coleção privada por mais 45 anos e foi vendido na Christie’s novamente, em 2007, por US$ 17,8 milhões. A obra será oferecida no mês que vem por US$20 milhões a US$30 milhões.

A segunda tela, Les Glaçons, Bennecourt, mostrando um rio congelado, é maior e foi pintada antes, em 1893. O quadro foi comprado e vendido por cinco pessoas em um período de quatro anos e terminou nas mãos da família Havemeyer, de Nova York, em 1897. Ficou na família até 1983, quando foi vendido por US$ 605.000 na Sotheby’s, na mesma cidade. Depois foi vendido em caráter privado duas vezes e agora voltou a leilão, com valor estimado entre US$18 milhões e US$25 milhões.

Os cálculos

A tela Les Arceaux foi vendida diversas vezes, mas o primeiro registro é de 1962, quando saiu por US$ 65.000.

Em termos de preço, o Dow avançou 3.097 por cento desde então. Aplicando este percentual de ganho aos US$ 65.000, o investimento ficaria ao redor de US$2 milhões. Porém, este cálculo inicial não contempla dividendos. Segundo o retorno total calculado pelo Terminal Bloomberg (o valor de US$ 65.000 com todos os dividendos reinvestidos), o ganho chega a 20.419 por cento e, se aplicado aos US$ 65.000, chegaria a US$13,3 milhões. Mesmo assim, se Les Arceaux realmente sair por US$20 milhões a US$30 milhões, seria um investimento melhor do que a bolsa.

O segundo ponto de dados é a venda realizada em 2007. Desde então, o Dow subiu 84,29 por cento. O investimento de quase US$18 milhões na ocasião resultaria em US$ 32,8 milhões atualmente. Aplicando o retorno total, o valor aumenta para US$ 40 milhões. Ou seja, o atual proprietário perdeu pelo menos US$10 milhões ao manter o quadro em vez de aplicar o valor em um fundo de índice.

Para Les Glaçons, o único registro é a venda por US$ 605.000, em 1983. De lá para cá, o Dow teve alta de 1.797 por cento, o deixaria o investimento com valor equivalente a US$ 11,5 milhões agora. Incluindo o reinvestimento de dividendos, o retorno total passa para 4.852 por cento ou US$30 milhões — US$5 milhões acima da estimativa máxima para a obra de arte no leilão de novembro.

A conclusão

Na simulação, para quem comprou em 1962, o quadro teria sido bom investimento. Para quem comprou após a década de 1980, o retorno seria decepcionante se comparado ao Dow Jones.

Mas falta pelo menos um aspecto crucial: é impossível pendurar na sala e admirar um índice de ações.

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