Mudança climática atinge os Alpes e europeus esquiam nas pedras

Por Andrea Rothman, Rudy Ruitenberg e Giles Broom.

A cidade francesa de Chamonix abriu um zoológico para distrair as crianças, que não podem esquiar. Em Laax, na Suíça, as operadoras aumentaram os preços do teleférico para afastar os esquiadores de altitudes mais baixas. Helicópteros estão transportando neve para Meribel e, em Saint-Martin-de-Belleville, o prefeito pediu que os moradores evitassem as pistas.

Estas são as reações a este dezembro sem neve, que se desenha como o pior de que se tem memória nos resorts europeus de esqui, destino de férias tanto de estrelas de cinema quanto de famílias com filhos pequenos. Em um continente onde as férias para esquiar são comuns, a crise invernal se reflete na economia local, que poderá ser prejudicada ainda mais se as reservas não melhorarem. E esta talvez não seja a última temporada de esqui sem neve, disse Daniel Goetz, meteorologista e pesquisador especializado em neve do serviço climático francês.

“O que se espera com a mudança climática é que os invernos com muito pouca neve se tornem mais frequentes”, disse Goetz. “No futuro será cada vez mais difícil oferecer pistas com neve”.

Com o aquecimento global, 2015 está prestes a se tornar o ano mais quente da história e o segundo mais quente na Europa, logo atrás de 2014. Praticamente não há neve nas pistas ensolaradas no norte dos Alpes abaixo de 2.000 metros de altitude; mais ao sul, a neve derreteu em altitudes de até 3.000 metros.

Craig Jones, um banqueiro de Londres que adora esquiar, esperava ansiosamente as férias de Natal para que ele e sua esposa pudessem apresentar o esporte a suas filhas pequenas em Morzine, um resort francês onde reservaram um chalé há cinco meses.

Não foram as férias dos sonhos. Com pistas cobertas por neve derretida, rochas e lama, a família tentou ir para Avoriaz, que fica a 40 minutos de carro e está localizada a uma altitude maior. Mas o lugar estava lotado de gente que teve a mesma ideia.

“Nós levamos as crianças para a piscina”, disse Jones. “Nós também tínhamos o iPad para entretê-las e fizemos algumas caminhadas”.

Neve artificial

Em algumas regiões, até as produtoras de neve artificial têm sido de pouca ajuda porque o ar pesado e frio permaneceu no vale, disse Christoph Marty, climatologista do Instituto Suíço de Pesquisa da Neve e das Avalanches.

“Temos procurado outras atividades”, disse Liz Mercer, coproprietária do BlackRock Ski Lodge, um chalé de luxo voltado aos esportes em Les Houches, perto de Chamonix. Chamonix e Les Houches fizeram um esforço enorme, disse ela, disponibilizando uma pista de patinação no gelo e abrindo um parque de animais que normalmente só é usado no verão.

“Os instrutores de parapente têm estado bastante ocupados”, disse ela. “Muitas pessoas ficaram contentes por calçar as botas de caminhada e ir andando até um restaurante na montanha”.

Atividade clássica

Considerando que o esqui no inverno é a atividade clássica das famílias endinheiradas de toda a Europa, é improvável que uma ou duas temporadas de pouca neve mudem os costumes drasticamente. Na França, onde muitas pessoas têm cinco semanas ou mais de férias, as famílias com filhos muitas vezes tiram férias para esquiar pelo menos uma vez ao ano, ajudadas por um sistema escolar que garante tempo livre todo mês de fevereiro. As crianças em idade escolar de Munique têm aulas de esqui na escola e viajam para esquiar uma vez ao ano. Na Áustria, ninguém que se preze deixa suas férias de esqui de lado.

Neste ano, isso poderá resultar em ossos quebrados ou coisas piores. O Innsbruck University Hospital, para onde são transportados de helicóptero os casos complexos vindos dos resorts de Tirol, na Áustria, está recebendo 100 esquiadores e snowboarders por dia. Eles estão se machucando mais do que o normal por causa da neve artificial, das pistas estreitas e da presença de rochas e árvores, disse o porta-voz do hospital, Johannes Schwamberger. Embora o número de pacientes seja ligeiramente menor que o do ano passado, as contusões são mais graves, e a paraplegia, mais frequente, disse ele.

“Normalmente, as pessoas quebram uma perna, ou escorregam um pouco, caem na neve e pronto”, disse ele. “Agora, quando caem, elas escorregam e se batem em uma pedra ou uma árvore, quebram outro osso, têm uma contusão. É daí que vêm os ferimentos múltiplos”.

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