Por Simone Iglesias e Bruce Douglas.
A candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes, senadora Kátia Abreu (PDT-TO), disse que nunca imaginou que a proposta de tirar o nome das pessoas do SPC fosse ter tanto apelo. Para ela, isso retrata o desespero de milhares de brasileiros com o desemprego e recessão e defende a medida como caminho para aquecer a economia.
“A ideia é o governo negociar com os bancos, afrouxar no compulsório, tirar juros sobre juros e tentar um reparcelamento”, disse em entrevista à Bloomberg, completando que a renegociação não usaria recursos do Tesouro. “São 63 milhões de pessoas que representam 42% da população adulta do país. Não tem condição de aquecer a economia sem elas”.
Abreu defende também a mudança de alguns pontos da reforma trabalhista, em especial, a “pejotização” dos baixos salários, que acarretará num custo previdenciário muito alto daqui a 20 anos. “Temos que reduzir a pejotição porque ela pode quebrar a previdência. Deveria ter um corte. Ao fim e ao cabo, tudo lá na frente vai virar benefício de prestação continuada que é um programa social”, avaliou.
Abreu é mais um componente da natureza imprevisível das eleições presidenciais deste ano. Liberal economicamente e de centro-direita, como ela mesma se define, a senadora acabou escolhida como candidata a vice do esquerdista Ciro Gomes, nome temido pelo mercado por propostas intervencionistas e pelo gênio explosivo. Ele já se comprometeu a recomprar os campos de petróleo vendidos a estrangeiros no governo Michel Temer e a revogar a lei que impõe limite ao crescimento de gastos públicos.
“Sou uma pessoa liberal com relação à economia, acredito no livre mercado, na livre iniciativa, no direito de propriedade, na segurança jurídica e jamais apoiaria um candidato que pensasse radicalmente diferente de mim.”, disse Abreu na entrevista. Ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e ministra da Agricultura de Dilma Rousseff, a senadora busca ser um contrapeso na campanha pedetista. Segundo ela, Ciro cumprirá contratos e qualquer recompra ou revisão de acordo será feito dentro da legalidade.
Sobre o “prêmio” Motosserra de Ouro concedido em 2010 pelo Greenpeace, Abreu reagiu com humor. Afirmou que gostaria de receber uma condecoração positiva que durasse tantos anos, mas que não se importa e que é assunto do passado.
“Virei um alvo num momento em que questão ambiental era um debate novo, mas não tenho uma licença de desmatamento”. “Nosso negócio é a produtividade e não o desmatamento”, disse ela, acrescentando que gostaria de ver o setor agrícola brasileiro aumentar sua participação no mercado global dos atuais 7% para 10%.
Um eventual governo de Ciro Gomes, ela acrescentou, estaria “absolutamente” comprometido em garantir que o Brasil cumpra suas metas de redução de emissão, respeitando o Acordo de Paris.
O giro em direção à Ásia, e à China em particular, seria o foco das relações comerciais, com o objetivo de garantir que o Brasil seja destaque na “nova rota da seda” em Pequim. Deixando de lado os temores dos investimentos chineses na região, Abreu disse que os Estados Unidos ficaram paralisados por anos até aceitar a compra da carne brasileira. “A China comprou por anos e nunca desconfiava de nós”.
Abreu disse ser totalmente contrária à invasão de terras e que o crescimento de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) ocorre parte pelo temor dos ruralistas com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. ” Movimentos da esquerda magoaram muito os produtores no que é mais caro para eles, o direito de propriedade. Há muita lembrança ruim”, argumentou.
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