Por Kara Alaimo.
Na semana passada, o Goldman Sachs realizou uma conferência em Londres sobre tecnologia disruptiva. Dos 76 palestrantes do evento, cinco eram mulheres. Não era uma anomalia: em um evento organizado em 2016 pela empresa Mercer, em Davos, por exemplo, todos os palestrantes em um painel sobre como ajudar as mulheres a prosperar eram homens. (Pelo menos a moderadora era mulher). Da mesma forma, uma contagem de eventos em seis think tanks de destaque em Washington revelou que 65 por cento de seus painéis eram formados só por homens.
Negar às mulheres oportunidades de se apresentarem em conferências profissionais impede que elas ganhem visibilidade em suas áreas e priva seus colegas de valiosas opiniões. Por isso, em 2013, Rebecca J. Rosen propôs uma solução na The Atlantic: homens deveriam se recusar a falar em painéis formados apenas por homens. Se todos os homens fizessem isso, claro, o problema seria imediatamente resolvido.
A ideia está lentamente decolando: um abaixo-assinado postado on-line por um economista desenvolvimentista em Londres já conta com mais de 1.100 assinaturas de acadêmicos, pesquisadores e representantes de ONGs do sexo masculino e quase 100 homens que trabalham com temas de paz e segurança em organizações de alto nível participaram de um abaixo-assinado semelhante no site manpanels.org. E, no ano passado, o renomado especialista em mídia digital Sree Sreenivasan causou um rebuliço quando se comprometeu a não participar de painéis só de homens. Então, ele decidiu ir ainda mais longe e anunciou que nem sequer participaria como ouvinte.
Mas, como as mulheres devem agir diante de painéis formados só por homens? Boicotá-los não faz sentido para nós, porque precisamos de oportunidades de desenvolvimento profissional para avançar em nossas áreas.
As mulheres já estão sub-representadas em posições sênior de liderança: respondem por menos de 6 por cento dos diretores-presidentes do Fortune 500, por menos de 15 por cento dos membros de conselhos de administração e menos de 20 por cento dos representantes no Congresso são mulheres. Mas as mulheres não estão obtendo as oportunidades de desenvolvimento profissional que poderiam ajudar a diminuir essa diferença. Um estudo conduzido pela Development Dimensions International revelou que os homens conseguem mais oportunidades de desenvolvimento profissional do que as mulheres em todos os níveis de emprego. E 70 por cento das mulheres querem mais dessas oportunidades, segundo um estudo da empresa de qualificação profissional Skillsoft.
Por isso, em vez de boicotar, proponho que as mulheres participem de todos os painéis formados só por homens para aproveitar as oportunidades — e constranger os organizadores das conferências. Por exemplo, as mulheres podem tuitar fotos dos eventos e usar a hashtag “#WhereAreTheWomen?”(Onde estão as mulheres?). O blog Congrats! You Have an All-Male Panel! (Parabéns! Você tem um painel formado só por homens!) mostra fotos enviadas por usuários em um mural da vergonha que não para de crescer.
Em seu livro “Activists Beyond Borders”, Margaret E. Keck e Kathryn Sikkink chamam esta estratégia de “alavancagem moral”. A ideia é que os organizadores se preocupem com suas reputações, de modo que, se forem colocados em evidência e constrangidos por um comportamento em particular, eles provavelmente parem. (United Airlines, estou olhando para você!)
Esta estratégia, em especial, provavelmente funcionaria aqui, porque incluir mulheres nos painéis não é algo particularmente difícil ou uma proposição polêmica. Ironicamente, empoderar as mulheres é um objetivo de muitas organizações que as têm excluído de forma evidente como palestrantes nos eventos. O Goldman Sachs, por exemplo, lidera a iniciativa 10,000 Women, que apoia mulheres empreendedoras ao redor do mundo. E, em 2014, o Goldman e o International Finance Corporation (IFC) lançaram o Women Entrepreneurs Opportunity Facility para financiar projetos de mulheres.
Então, é improvável que muitas das organizações que realizam painéis apenas com homens tenham más intenções. Provavelmente são apenas desatentas. É por isso que a conscientização é a melhor solução. Se os organizadores soubessem que deveriam temer uma publicidade negativa devido a desequilíbrios de gênero em seus eventos, aposto que tentariam encontrar palestrantes do sexo feminino desde o começo.
Devo admitir outra razão pela qual acredito que a estratégia seria bem-sucedida: funcionou comigo. Faço parte do comitê de programa para o Fórum de Comunicação Mundial. No ano passado, fiquei horrorizada quando vi posts nas mídias sociais chamando a atenção para um painel só de homens que foi realizado, ironicamente, no Dia Internacional da Mulher. Por isso, neste ano, organizei e moderei o primeiro painel apenas com mulheres em oito anos de história do evento. Ouvi repetidas vezes de participantes que foi uma das melhores sessões da conferência.
Se todos nós começássemos a perguntar “onde estão as mulheres?” nos eventos profissionais, aposto que os organizadores e patrocinadores fariam o mesmo em tempo recorde.
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