Mulheres votarão em defesa da própria vida no Estado do México

Por Isabella Cota.

Uma eleição local no México está chamando a atenção para uma guerra pouco divulgada que há anos passa despercebida e não documentada no país latino-americano: o assassinato diário de mulheres como demonstração do poder masculino, conhecido como “feminicídio”.

Eclipsados pela guerra contra o narcotráfico, esses assassinatos podem chegar a seis por dia e têm sido tão ignorados pelas autoridades que há poucos números confiáveis, as leis são inadequadas e até mesmo a classificação feminicídio é discutida. O que fica claro, segundo ONGs locais, é que a taxa de assassinatos está aumentando.

Agora, os eleitores no Estado do México estão obrigando os políticos a reconhecer o problema e agir. No ano passado, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas para exigir mais proteção do Estado. Em resposta, os candidatos da eleição que ocorrerá dia 4 de junho oferecem capacitar promotores em igualdade de gênero e abrir um órgão especial para apoiar as famílias das vítimas. Isso parece o mínimo que as autoridades poderiam fazer, mas é um começo.

“Todos os candidatos tiveram que abordar a questão da segurança”, disse Juan Carlos Villarreal, diretor do Ceplan, think tank político no Estado do México especializado em estratégias eleitorais. “A cara mais visível são os feminicídios. Este assunto não era comum antigamente, eclodiu nos últimos anos.”

Em uma região famosa pelo machismo, o México é inigualável em violência contra as mulheres. Números compilados pelo Instituto Nacional das Mulheres (Inmujeres) em 2014 mostraram que o país representa metade dos feminicídios na América Latina.

Reclamações

As famílias das vítimas e ONGs costumam reclamar que a polícia e os investigadores tratam feminicídios como suicídios e que quando uma mulher desaparece eles ignoram o ocorrido, dizendo que ela deve ter fugido com o amante.

O gabinete do presidente do México, Enrique Peña Nieto, ex-governador do Estado do México, encaminhou perguntas para Inmujeres. Pablo Navarrete, advogado desse órgão federal, disse que o feminicídio é “vergonhoso” e um dos maiores problemas enfrentados pelo governo. A violência faz parte da cultura machista do México, “que está profundamente arraigada em nossa sociedade”, disse Navarrete.

No entanto, as autoridades estão começando a mudar de atitude. Em um debate transmitido pela televisão, Delfina Gómez, candidata do Morena, um novo partido de esquerda que leva uma pequena vantagem nas últimas pesquisas, propôs capacitar promotores e forças policiais sobre a desigualdade de gênero. Ela culpou o Partido Revolucionário Institucional (PRI), atual governante, pelo recente aumento dos assassinatos.

Alfredo del Mazo, o outro candidato principal, representante do PRI e parente do presidente Peña Nieto, sugeriu ideias mais distintas. Afirmando que gostaria de ser “o governador das mulheres”, Del Mazo ofereceria subsídios a donas de casa, chamados por ele de “salários cor-de-rosa”. Ele também propôs uma “universidade cor-de-rosa” segura e exclusiva para mulheres, e “transporte cor-de-rosa”, um transporte público que excluiria homens e teria câmeras de vigilância.

“Eu considero que está havendo um avanço”, disse Vidal Romero, presidente do departamento de Ciência Política da universidade particular Itam, na Cidade do México. “Ver como este assunto incomoda os políticos nos mostra que o problema precisa estar na agenda. Agora, ele precisará permanecer na agenda.”

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