Mundo está ávido por soja e embarques batem recordes

Por Tatiana Freitas e Jeff Wilson.

O mundo parece ter uma fome insaciável de soja.

As exportações por EUA e Brasil, os dois maiores produtores mundiais, estão batendo recordes para esta época do ano e a demanda nesta temporada tende a superar de longe projeções oficiais que já eram as maiores até hoje. Grandes safras deixaram os estoques nos maiores níveis em registro. Os preços começaram a se recuperar do patamar atingido no mês passado, que foi o mais baixo em um ano. Isso porque há produto barato para atender à voracidade da procura por soja para ração animal e óleo de cozinha, especialmente na Ásia.

“A demanda está ridiculamente boa”, disse Dale Durchholz, analista sênior de mercado da AgriVisor, sediada em Bloomington, no Estado americano de Illinois. “A economia mundial está melhorando e, à medida que a renda aumenta, os consumidores demandam mais carne, laticínios e ovos. Os operadores subestimaram a demanda quando focavam na enorme oferta.”

Maior compradora mundial, a China aumentou as importações de soja no primeiro trimestre em 20 por cento em relação a um ano antes e o ritmo é o dobro do observado ainda em 2010, de acordo com dados do governo. O país tem o maior rebanho suíno do mundo e usa mais ração à base de soja após o governo impor restrições a uma alternativa feita de milho.

“A China não quer se ver sem soja”, afirmou Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities, de Chicago, que também atua no Brasil. Dejneka prevê que a importação de soja pelos chineses pode atingir 91 milhões de toneladas no ano encerrado em 30 de setembro, ultrapassando a estimativa divulgada no mês passado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), de um recorde de 88 milhões. Um ano antes, o total foi de 83,2 milhões de toneladas.

O ritmo de exportação pelos EUA, maior produtor mundial, é o mais robusto em duas décadas, em uma época do ano em que os embarques costumam ser menores. Foram inspecionadas para exportação 521.218 toneladas na semana encerrada em 27 de abril, 62 por cento a mais do que um ano antes e a maior quantidade para o período desde 1997, segundo dados oficiais.

Ritmo de embarques

Desde o início da colheita, em 1º de setembro, os embarques estão 15 por cento acima da velocidade já recorde do ano passado, sinalizando que a previsão do USDA, de 55,1 milhões de toneladas, pode ser baixa demais. Mas não é só a China. As compras aumentaram por parte de Indonésia, Tailândia, Paquistão, Coreia do Sul, Bangladesh, Taiwan, Malásia, Vietnã, Egito, Holanda e até dos vizinhos Canadá e México.

O Brasil deve liderar as vendas de soja neste ano. Nos primeiros quatro meses de 2017, o País exportou 27,7 milhões de toneladas, 17 por cento a mais do que um ano antes, de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). A China comprou 21,6 milhões de toneladas, ou 18 por cento a mais.

“A demanda mundial por soja foi surpreendente nos últimos meses” e as expectativas para o ano estão sendo revisadas porque “as importações chinesas continuam muito fortes”, disse Vinicius Ito, analista da Ecom Trading, em Nova York.

Oferta abundante

Isso não significa que o superávit global vai desaparecer tão cedo. Agricultores nos EUA e no Brasil, que juntos respondem por dois terços da produção mundial, realizaram suas maiores colheitas até hoje. No mês passado, o USDA projetou que os estoques globais vão subir 13 por cento nesta temporada para níveis recordes. Só nos EUA, os estoques vão dobrar para o maior patamar em 10 anos.

No mês passado, preocupações em relação a safras enormes derrubaram a cotação para US$ 9,2975 por bushel, a menor em um ano. Mas o produto barato incentivou as compras e o preço disparou. O contrato futuro de soja era negociado em Chicago por US$ 9,8025 na manhã de sexta-feira.

Ainda assim, fazendeiros brasileiros preferem segurar produto porque os preços em reais estão bem mais baixos do que há um ano, o que significa aumento dos estoques no País e menos concorrência para os exportadores dos EUA.

Somente 51 por cento da safra brasileira deste ano estava vendida em 28 de abril — a menor parcela em sete anos e muito abaixo da média em cinco anos de 64 por cento na data, segundo a consultoria Céleres, de Uberlândia.

Cobrindo custos

No maior Estado produtor do País, o Mato Grosso, os agricultores estão recebendo aproximadamente 58 reais por uma saca de 60 quilogramas que tem custo de produção próximo de 55 reais, de acordo com Tarso Veloso, analista da AgResource, em Chicago.

“Temos uma safra enorme, mas esta temporada definitivamente será menos lucrativa do que a anterior”, disse Bartolomeu Pereira, que lidera uma associação de fazendeiros em Goiás. “Os agricultores só estão esperando preços que compensem.”

Nos EUA, a colheita geralmente acontece entre setembro e novembro e os produtores americanos dominam o mercado mundial de exportação até a chegada do produto brasileiro mais barato, entre março e maio. Contudo, os embarques pelos EUA permaneceram grandes por mais tempo neste ano.

Custa mais transportar soja de navio para a Ásia e Europa a partir do Brasil do que a partir do Golfo do México ou dos portos no Pacífico Noroeste dos EUA. A valorização do real em relação ao dólar também desincentivou as vendas por produtores brasileiros e tornou mais competitivos os grandes estoques mantidos nos EUA.

“Se nada mudar, os fazendeiros brasileiros provavelmente continuarão segurando os grãos”, disse Lucas Brunetti, analista da consultoria Pine Research, em São Paulo. Isso significaria menos exportações e estoques acima do esperado, o que seria “pessimista para os preços no Brasil na próxima temporada”, ele disse.

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