Na nova Wall Street, bancos pedem ajuda para entender mercados

Por Matthew Leising e Annie Massa.

Depois que as ações do JPMorgan Chase despencaram 21 por cento nos primeiros minutos de trading do dia 24 de agosto do ano passado, o maior banco de investimento do mundo recorreu a um aliado improvável, a Virtu Financial, para que lhe ajudasse a entender o que aconteceu.

O leão pedia ajuda a um rato para atravessar a floresta onde ele é rei há tempos. Em seis meses, o JPMorgan gasta mais em tecnologia do que valem as ações da Virtu. O banco tem 240.000 funcionários, em comparação com 148 da Virtu.

Contudo, a Virtu está tão avançada na corrida armamentista do trading eletrônico e do roteamento de pedidos que os executivos do JPMorgan queriam sua avaliação para confirmar ou rejeitar a análise do próprio banco, segundo pessoas familiarizadas com a situação que pediram anonimato.

O CEO da Virtu, Doug Cifu, se reuniu naquele outono do Hemisfério Norte com Matt Zames, diretor operacional do JPMorgan, e confirmou a explicação do acontecido dada pelo banco, disseram as pessoas. A Virtu contribuiu com uma análise competente, microssegundo por microssegundo, da complicada mistura de interrupções do trading, aberturas atrasadas e problemas com fundos negociados em bolsa (ETFs, na sigla em inglês) que perturbou o mercado acionário dos EUA naquele dia e provocou uma breve queda nas ações do banco.

Pouco depois, a Virtu ganhou um trabalho importante do JPMorgan: supervisionar o trading de suas ações no icônico pregão em Manhattan da Bolsa de Nova York. E o relacionamento continuou florescendo na semana passada, quando o JPMorgan decidiu utilizar tecnologia da Virtu para operar no mercado de títulos do Tesouro dos EUA, de US$ 13,4 trilhões.

A nova Wall Street

Bem-vindos à nova Wall Street, onde um grupo de empresas menores e ágeis aproveita tecnologia inovadora para se tornarem os fornecedores preferidos de sistemas de trading que facilitam e barateiam a compra e venda de moedas, títulos do Tesouro dos EUA e ativos de renda fixa. Embora este seja há muito tempo o ganha-pão dos maiores corretores de títulos do mundo, e continuará sendo, o mundo cada vez mais complexo e implacável do trading eletrônico criou uma oportunidade para que especialistas como a Virtu, a Citadel Securities, a Global Trading Systems, a Jump Trading e a XTX Markets forneçam as conexões para esses mercados rentáveis.

Após a crise financeira, os bancos ficaram reduzidos, abatidos e recuados, em parte devido a novas normas, mas também porque ganhar dinheiro neste mundo novo é muito mais difícil.

A transição do poder está quase completa na Bolsa de Nova York. Hoje, quatro empresas de formação de mercados eletrônicos administram quase todo o trading no histórico pregão — postos que antes pertenciam a bancos de investimento como o Goldman Sachs Group e o Bank of America. Neste ano, tanto a Citadel Securities quanto a GTS adquiriram o que se conhece como operação de formador de mercado designado e se uniram à Virtu e à IMC como administradoras das ações de empresas registradas nessa bolsa.

A nova ordem não está isenta de riscos. O chamado “flash crash” de maio de 2010, que eliminou mais de US$ 800 bilhões do valor das ações americanas em minutos, mostrou os perigos que podem surgir quando os algoritmos dominarem os mercados financeiros. Estratégias de trading computadorizadas podem ser enganadas e manipuladas mais facilmente por trapaceiros. O trader britânico Navinder Singh Sarao foi preso e acusado pelo governo dos EUA de ganhar milhões de dólares manipulando mercados futuros em seu quarto. Ele nega ter feito algo errado.

“Eles são os formadores do mercado agora”, disse Nanette Buziak, diretora de trading de ações da Voya Investment Management, que administra US$ 204 bilhões em ativos. “Veremos novas parcerias de agora em diante em outras classes de ativos. Também veremos mais consolidação”.

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