Não abandonem os países do BRIC ainda

Por Mohamed El-Erian.

A decisão recente do Goldman Sachs de juntar seu Fundo BRIC em um fundo mais amplo de mercados emergentes não sinaliza que a ideia de agrupar as economias do Brasil, Rússia, Índia e China deixou de ser útil. Em vez disso, o movimento é um lembrete oportuno de que os conceitos analiticamente parecidos não precisam sempre se traduzir em abordagens duradouras de investimentos – e por boas razões.

O conceito BRIC foi criado em 2001 por Jim O’Neill, então economista-chefe do Goldman, para refletir a crescente influência sistêmica das quatro economias emergentes. Designava um grupo de países com grande população (totalizando quase 3 bilhões de pessoas), que não só experimentavam importantes mudanças internas, mas também estavam tendo uma influência cada vez maior sobre a economia global e os mercados como um todo.

O’Neill estava certo, e em um sentido bastante amplo.

Sua ideia de BRIC apontava uma maturação econômica e financeira muito mais ampla do mundo emergente: em menos de uma década, essas economias deixaram de ser atacadas por crises financeiras domésticas e colapsos econômicos (incluindo a crise asiática de 1997-98, o calote russo de 1998 e o quase calote brasileiro de 2002) para assumir seu lugar como fortes locomotivas do crescimento global que desempenharam um papel crítico em tirar a economia mundial da crise financeira de 2008.

Banco Mundial da China

Mais recentemente, no entanto, estes países estão com problemas. Todos os quatro estão experimentando taxas de crescimento mais baixas, com os mais fracos entre eles (Brasil e Rússia) em recessão. Todos, menos a Índia, passaram por episódios marcantes de instabilidade no mercado financeiro interno. Brasil e Rússia também passaram por um colapso desestabilizador em suas moedas.

Sem dúvida, parte dessa retração econômica e financeira foi causada por inconsistências internas, instituições fracas e, no caso da Rússia, custosas intervenções regionais (como no leste da Ucrânia) que levaram às sanções econômicas.

Outro colaborador é o desafio colocado – para muitos países, incluindo as economias avançadas – da persistente dependência dos principais bancos centrais do mundo em políticas experimentais apenas parcialmente adequadas para a tarefa a ser realizada e que geram repercussões importantes no resto do mundo.

Sob tais condições, um fundo de investimento tradicional long-only que está focado nos quatro países do BRIC, inevitavelmente vai ter dificuldades para conseguir retornos de investimento satisfatórios, menos ainda com riscos ajustados superiores. Como isso vai ficando claro, muitos investidores vão naturalmente procurar outras oportunidades, levando a um declínio na carteira de ativos do fundo e mais desafios de posicionamento da carteira.

Em termos de investimentos e negócios, Goldman tomou a decisão certa, juntando seu Fundo BRIC com suas ofertas mais amplas de mercados emergentes. Mas estes países ainda continuam sendo uma importante fonte de demanda externa para muitos outros países. Eles continuam a manter grandes reservas internacionais que estão predominantemente investidas em títulos emitidos pelos países avançados, incluindo títulos do governo. E crescendo ou em crise, o desempenho desses países continua sendo uma questão importante (lembremos que o susto do crescimento da China em agosto levou a uma grande instabilidade no mercado global e forçou o Federal Reserve dos Estados Unidos a adiar um aumento na taxa de juros).

Na verdade, o conceito BRICS (expandido para incluir a África do Sul há alguns anos) é cada vez mais notável porque esses países estão demonstrando uma disposição cada vez maior de lugar contra um sistema global que consideram ser excessivamente (e injustificadamente) dominado pela Europa e pelos EUA. E quando não conseguem trabalhar com outras potências para garantir mudanças razoáveis seguras – como as reformas tão adiadas de governança, representação e algumas das práticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial – eles não hesitam em tentar mudar com a criação de novas instituições (o Banco de Investimento em Infraestrutura Asiático).

Mesmo que o Goldman Sachs esteja correto em redefinir seu fundo, o conceito BRIC continua bem vivo. Na verdade, sua importância analítica e política vai aumentar nos próximos anos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do Conselho Editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.

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