Não dirigir até o trabalho virou benefício: Bloomberg View

Por Justin Fox.

Entre as muitas, muitas coisas que o Escritório do Censo dos EUA pergunta na Pesquisa Anual da Comunidade Americana (ACS, na sigla em inglês), cujo resultado de 2016 foi divulgado na semana passada, está o seguinte:

Como esta pessoa normalmente foi trabalhar na SEMANA PASSADA? Se esta pessoa usou habitualmente mais de um meio de transporte durante o percurso, marque (X) a opção usada para a distância maior.

Eu tive o privilégio de preencher a pesquisa para a minha família quatro ou cinco anos atrás e até hoje me gabo de ter colocado meu “X” ao lado de “bicicleta” (lembro que aquela tinha sido uma semana ensolarada e revigorante de primavera em Cambridge, Massachusetts). Muita gente não faz isso! O Escritório do Censo estima que apenas 0,57 por cento dos trabalhadores dos EUA usaram a bicicleta como principal meio de transporte no ano passado, o que é mais que 0,45 por cento em 2006, mas ainda… não é muito. A grande maioria dos americanos vai para o trabalho, como o faz há muito tempo, de carro, caminhão ou van, geralmente dirigindo sozinho.

Ainda assim, é possível identificar uma leve tendência de queda, muito mais acentuada nas caronas, mas aparente (e um pouco maior que a margem de erro) também em dirigir sozinho. Ela fica ainda mais evidente ao classificar as pessoas de acordo com a renda.

A porcentagem diminuiu um pouco entre os trabalhadores de renda baixa e média desde 2005, embora seja difícil detectar uma tendência real em qualquer direção desde a última recessão. Entre aqueles que ganham US$ 75.000 ou mais, porém, houve um declínio significativo desde 2005, e ele continua. Um dado da realidade para os muitos leitores bem remunerados da Bloomberg: apenas 18,4 por cento dos trabalhadores dos EUA ganharam US$ 75 mil ou mais em 2016, de acordo com a ACS; a mediana foi US$ 35.815 (todos estes números se referem a indivíduos; a mediana da renda familiar, também divulgada na semana passada, é mais elevada).

Então, embora a grande maioria dos trabalhadores de renda mais alta continue dirigindo para ir ao trabalho, essa porcentagem está diminuindo, de um jeito que não se aplica aos trabalhadores de renda mais baixa. Como é que esses trabalhadores de renda mais alta estão indo trabalhar? Bem, o transporte público é uma opção.

Isso mesmo: aqueles que ganham mais de US$ 75.000 por ano estão mais propensos a usar o transporte público para trabalhar do que aqueles com rendas mais baixas, e o uso de transporte público só vem aumentando nessa categoria. Como o número de pessoas que ganham menos de US$ 75.000 por ano é muito maior do que o número de pessoas que ganham mais, os trabalhadores de renda mais baixa ainda compõem a grande maioria dos passageiros do transporte público. Ainda assim, o fato de que os trabalhadores endinheirados sejam os mais propensos a pegar o ônibus, o trem ou o bonde contraria muitos preconceitos. Mas, ao considerar onde os empregos bem remunerados estão concentrados atualmente, isso faz sentido. As regiões metropolitanas nos EUA com os maiores rendimentos domésticos tendem a ser lugares populosos com sistemas de transporte público bem desenvolvidos.

Ainda assim, esse aumento no uso do transporte público entre os trabalhadores de maior renda não é tão grande quanto o declínio em dirigir. Então, como eles estão indo trabalhar? Atravessando o corredor andando, principalmente.

Apesar da ocasional repressão chamativa ao trabalho em casa (na International Business Machines no início deste ano, por exemplo), essa tendência parece estar acelerando. E os dados mostram apenas as pessoas que trabalharam em casa na maior parte da semana anterior — a pesquisa mais recente da Gallup sobre teletrabalho, em 2015, descobriu que 37 por cento dos trabalhadores dos EUA disseram que trabalharam em casa usando um computador para se comunicar com o escritório em algum momento, contra 30 por cento em 2008 e 9 por cento em 1995. Uma outra pesquisa de 2016 da Gallup concluiu que 43 por cento trabalham remotamente pelo menos uma parte do tempo e que 75 por cento fazem isso em mais de um quinto do tempo.

Esta tendência a trabalhar em casa é mais acentuada entre aqueles com renda mais alta, os dados do censo deixam isso claro. Também entre os que têm alta escolaridade — um novo relatório da Flexjobs e da Global Workplace Analytics baseado em dados anteriores do censo concluiu que 53 por cento dos teletrabalhadores têm pelo menos um diploma de bacharel, em comparação com 37 por cento dos que não são teletrabalhadores. De acordo com o mesmo relatório, a região metropolitana com maior porcentagem de teletrabalhadores (8,5 por cento) é Boulder, Colorado, que também é a região metropolitana com maior porcentagem de moradores com 25 anos ou mais com pelo menos um diploma de bacharel (60,6 por cento em 2016).

Essas são as recompensas pela escolaridade. Adquira o suficiente e você pode chegar a viver à beira das Montanhas Rochosas e não ter que ir dirigindo para o trabalho.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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