Não espere que o BC intervenha no câmbio, ao menos por ora

Por Josue Leonel e Davison Santana.

A alta do dólar e da volatilidade cambial nas últimas semanas deve ser insuficiente para abalar o sangue-frio do Banco Central. Apesar de as incertezas com a alta de juros nos EUA se somarem ao ceticismo doméstico com as reformas e a eleição de 2018, a maioria dos analistas não vê proximidade de uma intervenção no mercado de câmbio. Para eles, mesmo com o dólar sustentado acima da barreira de R$ 3,20, ainda há um conjunto de precondições não atingidas para o BC atuar.

O Banco Central só deverá intervir em caso de algum movimento em que não apenas a volatilidade seja elevada como haja ameaça de problemas de liquidez, como quando ocorreu na crise gerada pela delação da JBS, diz Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs, em entrevista. Para ele, o BC deve permitir a flutuação do câmbio, “a não ser que haja algum movimento disfuncional”.

A intervenção do Banco Central do México para sustentar o peso em outubro, ampliando o hedge e freando a depreciação, exemplifica bem uma situação atípica, pois a moeda se desvalorizava numa velocidade muito maior que a dos pares devido à falta de avanço nas negociações a respeito do Nafta.

Outras moedas de países emergentes também têm sofrido e estão sujeitas ao aperto das condições monetárias nos EUA e ao risco de um presidente do Fed mais hawkish, portanto a desvalorização cambial não é um caso específico do Brasil. Além disso, o fato de o BC não ter swaps vencendo antes de janeiro reduz o potencial impacto do uso de rolagens antecipadas como forma de atuação no câmbio. Ainda que o dólar amplie a alta, a maioria dos analistas não considera que a cotação seja a principal preocupação da autoridade monetária.

Para Win Thin, estrategista para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman, o BC não está tentando proteger qualquer nível de preço para o dólar em particular. “Se os movimentos do dólar ficarem desordenados, expectativa é que BC use swaps para ajudar a administrar a volatilidade”, diz. Roberto Padovani, do Banco Votorantim, tem avaliação semelhante. “O BC não olha muito para patamar, se preocupa com as condições de liquidez e só vai agir se perceber uma mudança de tendência real na liquidez do mercado”, afirma o economista.

Segundo os analistas, enquanto o movimento estiver apenas acompanhando o que ocorre com outras moedas no exterior, o BC não deve intervir. “Há um certo mau humor adicional, ceticismo com reformas, mas o movimento é majoritariamente global”, diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING. “Enquanto não houver uma discrepância maior entre o real e o resto, não há nada de preocupante para o BC.” 

As moedas da América Latina estão mais sensíveis ao risco global do que antes e o investidor externo ficou “bastante arisco” aos ativos das região, reagindo de maneira intensa, observa Rangel. “Há um certo receio de que os ativos apreciaram demais. Tenho a percepção de que está todo mundo com a mão no gatilho, prontos para sair dos ativos de risco ao sinal de algum problema.”

Mesmo que o dólar suba por razões domésticas, e não externas, o BC deve no máximo aumentar as rolagens de swaps, sem intervenções maiores, diz Ramos, do Goldman. Para o economista, uma depreciação poderia ser positiva para a economia. Com a inflação baixa, um dólar mais alto seria um estímulo adicional para as exportações e a recuperação da atividade.

Alejandro Hardziej, analista de renda fixa do Banco Julius Baer, também vê o ainda baixo crescimento da economia como incentivo para o BC não conter o movimento, mas considera a inflação e a volatilidade como fatores que podem eventualmente mudar o cenário. “Naturalmente, o incentivo pode mudar se a alta da inflação ou a alta volatilidade do real se tornarem uma preocupação novamente”, diz o analista.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse nesta terça-feira que o estoque atual de swaps cambiais do BC deixa a instituição “confortável’’. O banco, segundo Goldfajn, reduziu os estoques de US$ 108 bilhões no início de 2016 para o atual montante de US$ 24 bilhões. Ele lembrou que as reservas hoje são cerca de 20% do PIB e isso contribui para manter a calma e a cotação relativamente estável.

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