O aumento do uso da negociação eletrônica moldou a forma como diferentes mercados e classes de ativos operam. Agora é possível executar estratégias sofisticadas de algoritmos, encontrar liquidez em classes de ativos de nicho e melhorar custos e transparência para vários mercados. E isto é apenas a ponta do iceberg.
Vamos analisar alguns desses desenvolvimentos recentes e como as próximas mudanças regulatórias podem dar início à próxima fase de negociações eletrônicas.
Evolução da negociação eletrônica
Muitos desses avanços na negociação eletrônica estiveram em destaque no Fórum de Líderes do Sell-Side deste ano, organizado pela Bloomberg em Nova York.
“É um mundo muito diferente hoje”, disse Lisa Bravo, diretora global de OMS do sell-side na Bloomberg, a uma audiência que incluia traders, analistas e líderes de negócios, ao relembrar os processos manuais que antes dominavam os pregões.
Os fluxos de trabalho passaram de preencher tickets em papel e mandar faxes para a realização de tarefas usando sistemas digitalizados. Por exemplo: os traders agora podem enviar solicitações de cotações (RFQs) por plataformas eletrônicas ou usar algoritmos para aplicar uma estratégia para minimizar o impacto no mercado.
Estes são apenas alguns dos benefícios da negociação eletrônica, que também estabeleceu as bases para mecanismos de precificação automatizados, transmissão de preços em tempo real e envio de ordens eletrônicas (entre outros).
Mercados de streaming e automação de fluxo de trabalho
Durante o recente Fórum de Líderes do Sell Side em Nova York, Larry Tabb, diretor de pesquisa de estrutura de mercado da Bloomberg, Amy Hong, diretora de estrutura de mercado e parcerias estratégicas, bancos globais e mercados do Goldman Sachs, Sonali Theisen, diretora global de investimentos estratégicos de mercados e negociação eletrônica da FICC no Bank of America, e Eddie Wen, diretor global de mercados digitais do J.P. Morgan, refletiram sobre as mudanças e benefícios da negociação eletrônica que testemunharam ao longo dos anos.
O consenso foi de que a eletronificação dos mercados levou ao desenvolvimento de mercados de streaming e sistemas automatizados orientados por ordens. Essa evolução também permitiu ferramentas sofisticadas de execução por algoritmo projetadas para alcançar vários objetivos estratégicos, desde mercados de alta liquidez, como ações e renda fixa, até as classes de ativos de nicho. O aumento da liquidez resultante da negociação eletrônica é um resultado direto destes benefícios.
“Você tem os provedores de liquidez que podem gerar preços sistematicamente e fornecer liquidez”, segundo Amy Hong. “Isto permitiu maior quantidade de dados, o que significa que os clientes que são tomadores de liquidez agora podem automatizar seus fluxos de trabalho.”
Além disso, o processo eletrônico proporcionou mais transparência nos spreads das ofertas de compra. Por exemplo: no mercado de forwards não entregáveis (NDFs, na sigla em inglês) não havia fluxo bidirecional.
No entanto, quando o mercado de NDF se tornou eletrônico, os traders viram as mesmas eficiências que eles encontravam em outros mercados estabelecidos, como o mercado de câmbio tradicional. Os custos eram menores, a transparência era maior e agora eles podiam fazer transferência para muitos clientes em várias plataformas. Tudo isso fez com que o produto se tornasse mais líquido.
O futuro da negociação eletrônica
Apesar do aumento significativo na negociação eletrônica, ainda há um caminho a percorrer. A infraestrutura claramente amadureceu, mas a negociação eletrônica ainda precisa estabelecer uma posição semelhante em outras classes de ativos, onde a inovação continua necessária.
Além disso, a transição para um ciclo de liquidação em T+1 foi um grande avanço. A redução dos tempos de liquidação em 70–80% requer uma grande coordenação entre todos os participantes do mercado. Embora os órgãos do setor, como DTCC e SFA (Structured Finance Association) tenham desempenhado papéis cruciais na gestão desta transição, a complexidade do alinhamento dos mercados globais com o ciclo T+1 introduz possíveis incompatibilidades em transações de financiamento e câmbio (FX). Isso exige uma colaboração contínua com os clientes para gerenciar possíveis discrepâncias de forma eficaz.
Há também pressões tecnológicas e regulatórias que acompanham tais mudanças. O aumento da negociação de alta frequência e da negociação baseada em portfólio aumentou significativamente o volume e a complexidade das negociações, exigindo infraestruturas tecnológicas robustas capazes de lidar com milhares de transações instantaneamente.
Além disso, as próximas regulamentações, como a possível divulgação das transações no TRACE em um minuto, podem representar um estresse adicional nos sistemas existentes. E embora isso possa ser um desafio, também pode ser uma oportunidade.
“A Bloomberg estava lá quando o TRACE foi introduzido pela primeira vez no início da década de 2000, e certamente também estaremos lá para enfrentar esse novo desafio”, disse Lisa Bravo. “Já investimos na melhoria da velocidade da nossa arquitetura e estamos reimaginando a forma como fornecemos os dados.”
Esse é apenas o início da nova fase da negociação eletrônica e, se for algo parecido com as anteriores, espere ver mais eficiência, transparência e liquidez.