Negociação Mercosul-União Europeia entra em fase decisiva

Por Charlie Devereux, Viktoria Dendrinou e Samy Adghirni.

As negociações entre o Mercosul e a União Europeia para a criação de um dos maiores acordos comerciais do mundo entra em fase crucial nesta semana. Representantes dos dois blocos se apressam em tentar superar dificuldades e resistências antes do fim do prazo autoimposto, no mês que vem.

Negociadores da União Europeia, que reúne 28 países, e da união aduaneira do Mercosul, composta por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, estão em Bruxelas desde quarta-feira, e continuarão até 8 de dezembro, como parte das negociações formais retomadas no ano passado. Os europeus querem mais concessões em compras governamentais e reduções mais rápidas de tarifas. Os sul-americanos cobram mais acesso para seus produtos agrícolas.

O fechamento de um acordo não apenas iria na contramão do crescente sentimento protecionista em muitas partes do mundo como também evidenciaria a atual propensão a uma maior abertura econômica em boa parte da América do Sul. As negociações comerciais e de investimentos da Europa com os EUA, conhecidas pela sigla TTIP, teriam criado a maior área de livre comércio do mundo, mas as conversas emperraram. As negociações com a parte sul do Hemisfério Ocidental continuariam representando um quarto do produto interno bruto global e um comércio bilateral superior a US$ 100 bilhões.

Oficialmente, tanto o Mercosul como a União Europeia se dizem comprometidos a chegar a um acordo até o fim do ano. A Argentina espera que um acordo de princípio possa ser anunciado durante reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Buenos Aires, em dezembro.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, disse à Bloomberg News no início do mês que está empenhado em assinar um acordo neste ano.

Nem todos estão tão otimistas. O clima das conversas é difícil, segundo um diplomata brasileiro com conhecimento das negociações, que pediu anonimato. As ofertas da UE para a carne bovina e o etanol, apresentadas no mês passado, decepcionaram.

O maior grupo da indústria açucareira do Brasil, a Unica, afirmou que se a UE oferecesse uma cota de 100.000 toneladas com tarifa de 98 euros por tonelada, conforme noticiado pela imprensa local, seria “inaceitável”.
Pelo lado da UE, está em curso o trabalho de preparação para um possível intercâmbio de ofertas, e os estados-membros estão sendo consultados, segundo um representante da Comissão.

Enquanto países como a Alemanha vêm pressionando por negociações rápidas, a França cedeu à pressão de seus produtores para não oferecer muitas concessões no tocante ao comércio agrícola, afirmaram pessoas de ambos os lados das negociações.

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