Por Felipe Marques com a colaboração de Javiera Quiroga e Eduardo Thomson.
A investida do Itaú Unibanco Holding no Chile está se mostrando mais difícil do que o banco esperava.
A instituição financeira – que acertou a compra do CorpBanca, sediado em Santiago, em 2014 – informou que a economia de custos de US$ 100 milhões que estava prevista na fusão só se concretizará em 2020, ou seja, um ano depois da estimativa inicial. Além disso, metade das 70 agências do CorpBanca que, segundo o plano, seriam renovadas para se tornarem unidades do Itaú no ano passado, só farão a transição até o fim de 2017.
“No cômputo geral, empurramos um ano para frente as metas de sinergias de custos que imaginávamos”, disse o CEO do Itaú Corpbanca no Chile, Milton Maluhy, que está no comando do banco desde 2015. “Não mudou o quanto vamos ter de sinergias, mas mudou o quando.”
Itaú e CorpBanca chegaram a um acordo para combinar suas operações locais em janeiro de 2014. No entanto, obstáculos regulatórios e societários adiaram a conclusão do negócio até abril de 2016. O Itaú é o maior banco do Brasil em valor de mercado. A transação foi parte da estratégia de expandir as atividades de varejo e banco de investimento fora do País.
Até certo ponto, o atraso no alcance das metas de economia de custos também foi causado pela decisão de transferir clientes de maior renda do CorpBanca para o segmento Itaú Personal Bank, que começou no Chile no ano passado, equivalente ao Itaú Personnalité no Brasil, de acordo com Maluhy. “A ideia foi minimizar impacto para clientes, mesmo a custo de um atraso no processo”, ele explicou.
Grandes aspirações
O Itaú é o quinto maior banco do Chile pelo critério de empréstimos, com fatia de mercado de cerca de 11 por cento e 15,9 trilhões de pesos (US$ 24 bilhões) em créditos, segundo cálculos feitos pelo banco em março. Esse montante é 2,4 por cento menor do que um ano antes, mas o Itaú ainda pretende chegar à terceira posição no ranking até 2020. A América Latina excluindo Brasil representa quase 25 por cento dos empréstimos do Itaú.
“Ano passado, com o processo de fusão, ficamos olhando muito para dentro do banco”, disse Maluhy, que antes de assumir o Chile era responsável pela operação de cartões de crédito do Itaú. “Neste ano, nossa ideia é retomar a força comercial, independente do processo de fusão.”
O Itaú CorpBanca cortou quase 700 empregos desde a fusão, ou aproximadamente 10 por cento do quadro de pessoal. Dos 11 executivos que faziam parte do alto escalão, sete foram substituídos desde que o novo CEO tomou posse.
Outro obstáculo é a desaceleração da atividade econômica local. O crescimento real do PIB chileno foi de apenas 1,6 por cento no ano passado, vindo de 2,3 por cento em 2015 e quase 6 por cento em 2011. A projeção dos analistas para este ano é de expansão de 1,8 por cento. O crédito perdeu fôlego junto com a economia. Nos 12 meses até abril, o crescimento dos empréstimos foi de 6,1 por cento, comparado a mais de 10 por cento um ano antes, segundo dados do banco central.
“A desaceleração da economia chilena trouxe uma redução forte dos níveis de confiança das famílias e das empresas, então tivemos um ano com muito menos oportunidades de negócios”, disse Maluhy.
Os empréstimos a pessoa jurídica, que têm sofrido mais do que o segmento de pessoa física, representam quase 70 por cento da carteira total de empréstimos do Itaú CorpBanca. De acordo com Maluhy, o banco pretende mudar isso com maior equilíbrio entre os dois segmentos.
Outro objetivo é aumentar a lucratividade. O retorno ajustado sobre o patrimônio tangível da divisão chilena foi de 6,4 por cento no ano passado, segundo o banco. Para o banco controlador, o retorno ajustado sobre o patrimônio chegou a 20,3 por cento no mesmo período.
A estratégia para atingir esses objetivos é tornar o banco no Chile mais parecido com o do Brasil, onde a receita com taxas e serviços financeiros contribui quase tanto para os resultados quanto a receita com empréstimos.
“No limite, nos próximos anos, vamos buscar ter 40 por cento das receitas vindo de serviços, dos cerca 20 por cento de hoje”, disse Maluhy.
A instituição também está ampliando a presença digital, com aproximadamente 42 por cento dos empréstimos ao consumidor sendo realizados online (comparado a apenas 8 por cento há seis meses), o que ajuda a conter os custos.
Virada positiva
Sebastian Gallego, analista da Credicorp Capital que tem recomendação de compra para o papel, afirma que as apostas de longo prazo no CorpBanca ainda fazem sentido, mesmo se demorar para a lucratividade melhorar. A razão entre preço da ação e valor patrimonial do CorpBanca está um pouco acima de 1, enquanto a maioria dos grandes bancos chilenos tem razão de 2,5, de acordo com o analista.
“Nós entendemos os desafios que o Itaú CorpBanca tem pela frente, mas acreditamos que o banco pode entregar a história de uma virada positiva”, disse Gallego.
Um bom final para esta história dependerá da capacidade do Itaú de mudar a trajetória do CorpBanca.
“O banco era sempre visto como segundo ou terceiro banco dos nossos clientes, um banco complementar”, disse Maluhy. “Nosso objetivo agora é ser o principal banco do cliente.”
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