No tabuleiro das reformas, Temer aposta suas fichas em Meirelles

Por Matthew Malinowski e Samy Adghirni.

Com seus principais aliados envolvidos em acusações de corrupção, o presidente Michel Temer tem confiado cada vez mais no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um ex-executivo de Wall Street, para conduzir pelas águas traiçoeiras do Congresso um impopular projeto de reforma da Previdência.

Engenheiro de formação e ex-executivo do banco FleetBoston Financial Corporation, Meirelles, de 71 anos, se reuniu com centenas de parlamentares ao longo das últimas semanas. Sessão após sessão, ele faz apresentações e se submete a sabatinas nas quais responde a perguntas de parlamentares. O objetivo é convencê-los da urgência de uma reforma que pode ser crucial para a recuperação econômica do país e para a volta do grau de investimento.

Meirelles assume essa responsabilidade após o envolvimento de alguns dos principais aliados de Temer em escândalos de corrupção. Principal articulador do Planalto com o Congresso, Geddel Vieira Lima foi forçado a renunciar, e o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, teria pedido doações ilegais de campanha. Ambos negam irregularidades.

“Quando você está em um jogo de pôquer, você tem de jogar com as cartas que já estão na mesa”, disse David Fleischer, professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília, em entrevista por telefone. “Temer perdeu várias cartas do seu círculo mais próximo. Meirelles é a melhor carta entre as que ficaram.”

A proposta de reforma da Previdência visa a controlar os custos com seguridade social estabelecendo uma idade mínima de aposentadoria e aumentando o tempo de contribuição. O plano foi criticado por parlamentares de oposição e sindicatos, que argumentam que a medida viola os direitos constitucionais dos brasileiros.

Enquanto boa parte do gabinete se empenha para conseguir a aprovação do projeto, Temer escolheu transformar Meirelles em porta-bandeira da proposta porque o ministro é respeitado no Congresso e entende as minúcias do assunto, segundo um dos assessores do presidente, que pediu anonimato.

Se for bem-sucedido, Meirelles poderá emergir como o homem que tirou o país da maior recessão da história e se credenciar como possível candidato a presidente em 2018. Mas o risco de se emaranhar nas areias movediças de um Congresso com quase 30 partidos ainda é grande. Quando ministro da Fazenda, Joaquim Levy tentou e teve de renunciar ao cargo porque não conseguiu apoio dos próprios partidos da base aliada para as reformas.

Até agora, o balanço de Meirelles na função é irregular. Isso se deve em parte ao fato de que ele e sua audiência jogam por resultados diferentes. O foco do ministro da Fazenda na viabilidade a longo prazo das contas públicas do país contrasta com a preocupação dos parlamentares sobre como vender aos seus eleitores um plano que os obriga a trabalhar por mais tempo. Faltam apenas 18 meses para as eleições.

“Meirelles não está preocupado nem com a reeleição de quem votou contra o trabalhador e nem nas categorias profissionais”, disse o deputado federal Alberto Fraga, vice-líder do Democratas, um dos principais partidos da base aliada de Temer. “Ele só pensa em números e estatísticas.”

“Aqueles que vão se explicar aos seus eleitores poderão dizer que participaram disso votando nas matérias fundamentais, aprovando reformas que fizeram o Brasil voltar a crescer”, disse Meirelles em comentários enviados por e-mail. “Não são procedentes as preocupações de alguns parlamentares que temem ser afetados, junto ao eleitorado, pela aprovação de algumas reformas que parecem impopulares”, disse Meirelles. “Essas reformas vão permitir ao Brasil voltar a crescer, gerar empregos, criar mais renda para a população, com inflação menor e juros menores”.

Simpatizantes afirmam que a experiência e o entendimento de Meirelles têm ajudado esclarecer o complexo projeto de lei e contestam a acusação de que ele ignora suas preocupações.

“O Meirelles escuta”, disse o deputado federal Danilo Forte, do PSB.

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