Normalização das taxas pelo Fed, perspectiva para a América Latina

Por Lizzette Lara.

Histórico

Em junho de 2013, o Federal Reserve (Fed) decidiu começar a cortar o chamado afrouxamento quantitativo (QE) nos dois tipos de compra de títulos – públicos e hipotecários. O corte representou o início de um processo gradual de relaxamento apelidado de “tapering” em Wall Street.
Desde então, o mercado tenta analisar cada reunião do comitê de política monetária (FOMC) e cada declaração divulgada em busca de um sinal para o momento do primeiro aumento da taxa de juros desde 2006.

A estratégia

O sinal foi a estratégia pela qual o Fed tentou influenciar as decisões financeiras dos lares, empresas e investidores, informando-os sobre o que esperar das taxas de juros.

Nos últimos anos, as atas do FOMC normalmente apresentaram um único parágrafo iniciado com uma declaração qualitativa geral sobre as metas da política atual. Ao descrever suas metas operacionais, o FOMC refere-se às condições do mercado de reservas, não em termos de aumento de oferta de moeda. Embora o Fed enfatize agregados monetários e de reserva, na prática ele opera com a federal funds rate (taxa básica de juros do país).

Após cada reunião, o FOMC divulga uma declaração, resume a diretiva, dá alguma ideia da visão do Fed sobre os futuros riscos da política e indica se tais riscos são principalmente ponderados pela pressão inflacionária, a fragilidade econômica ou igualmente entre as duas.

Panorama do 2º trimestre de 2015

Uma série de relatórios econômicos decepcionantes divulgados no final do 1º trimestre sugeriram que a retomada do 2º trimestre poderia ser menos vigorosa do que a do mesmo período do ano passado. As vendas do varejo, a produção industrial, os preços ao produtor e o produto nacional bruto ficaram aquém das expectativas dos economistas.

A boa notícia é que a queda do 1º trimestre não vai se estender para o 2º trimestre; a má notícia é que a recuperação do 2º trimestre deve ser um tanto moderada.

O declínio acentuado do sentimento do consumidor, segundo o relatório preliminar de uma pesquisa da Universidade de Michigan do mês de maio, é outro sinal de que a retomada do 2º trimestre vai ser muito mais modesta este ano em comparação ao ano passado.

A resistência do mercado de trabalho foi fundamental para o julgamento do Fed sobre o cenário e muitos dos formuladores de políticas acreditavam que o ritmo de melhoria do mercado de trabalho havia desacelerado.

O sentimento das construtoras permaneceu resiliente ao longo do 1º trimestre e até maio, contrastando com o declínio acentuado do 1º trimestre de 2014, quando o clima foi um problema mais significativo.

As expectativas de inflação reportadas pelos consumidores recuperaram-se das recentes baixas, apoiando a caracterização feita pelo FOMC, com medidas baseadas em pesquisas, de que as expectativas de inflação de longo prazo estavam estáveis.

Os números das vendas do varejo em abril confirmaram que a economia não está testemunhando uma aceleração sólida no trimestre atual, semelhante com a que ocorreu na mesma época do ano passado.

Em resumo, a economia está em aceleração gradual no meio do ano, representando um crescimento mais lento do emprego e menos risco de pressão inflacionária. A natureza mais gradual da aceleração vai permitir que os formuladores da política monetária movimentem-se com mais lentidão. Assim sendo, com a mais recente rodada de dados decepcionantes nos EUA, os mercados estarão atentos à reunião do comitê em 17 de junho.

Expectativas do mercado

Comparados a 2014, em maio de 2015 os contratos futuros de federal funds estavam sendo precificados a um ritmo mais lento de normalização das taxas durante 2015 e o preço das taxas de curto prazo do mercado poderiam atingir 1% em setembro de 2016.
 

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No 1º trimestre, a expectativa dos membros do FOMC era de que a taxa dos federal funds ficaria em torno de 0,625% no final de 2015. A taxa implícita do mercado para os federal funds estava em 34 pontos-base no final do ano, menos otimista do que as projeções do sell-side, que defendiam uma variação de 43 a 70 pontos-base no final do ano. Em média, o mercado estava com preços no mínimo 25 pontos-base acima da taxa dos federal funds.

No último mês, o mercado recebeu uma surpresa agradável com a divulgação dos dados econômicos mais positivos. Cada vez mais participantes do mercado começam a acreditar que o Fed pode aumentar as taxas logo em junho ou setembro. O Fed anda dizendo que pode aumentar a meta de intervalo da taxa dos federal funds para entre 0,25 e 0,50 por cento quando começar a elevar as taxas.

Os rendimentos dos títulos públicos americanos de curto prazo quase dobraram desde o início do ano em preparação para a decolagem do Fed. A curva de juros americana continua acentuada em relação às medidas históricas, mas parece que o mercado está começando a repetir o furor de 2013, como mostra o gráfico abaixo.
 

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O que isso significa para a América Latina?

Os tempos mudaram para os mercados emergentes. O período de excesso de liquidez e busca por rendimento parece ter acabado. As taxas de juros mais altas e o dólar mais forte nos EUA inevitavelmente vão afetar as economias dos mercados emergentes com grandes montantes de dívida em dólar. Aqueles com políticas econômicas mais sólidas, déficits externos mais baixos e inflação menor serão os mais resilientes.

O Ministro da Fazenda do México mencionou que “se as taxas estão aumentando nos EUA é por que a economia americana está indo muito melhor e isso é muito bom para o México, pois exportamos 80% das nossas mercadorias para os EUA”, portanto, “o aumento da taxa pelo Fed vai criar alguma volatilidade, sem dúvida, mas isso é fundamentalmente uma boa notícia para o México”.

Mauricio Cárdenas, Ministro da Fazenda da Colômbia, comentou que a possível turbulência do mercado não teria um efeito uniforme nos países da região. “Estamos preocupados com um excesso de furor? Não estamos porque os mercados são seletivos. Eles sabem quais são os fundamentos e vão procurar fontes de crescimento nas diferentes economias,” ele afirmou.

Países incluindo Chile, Colômbia e México demonstraram ter implementado regras fiscais rigorosas para quando vierem os tempos difíceis.

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