Por Mark Gilbert.
Ao pesquisar no Google a frase “morte do dólar”, aparecem cerca de 168 milhões de resultados em menos de meio segundo, incluindo artigos, vídeos do YouTube e livros que preveem o desaparecimento da moeda dos EUA. O dólar parece ter poucos amigos.
Depois de ter desacelerado no ano passado em relação a todas as principais divisas, à exceção do real brasileiro, o dólar iniciou as duas primeiras semanas de negociação de 2018 levando mais uma surra no mercado de câmbio.
As justificativas para essa fraqueza, no entanto, parecem ser desculpas, não razões. Existe a ameaça de uma paralisação do governo dos EUA. O núcleo de inflação está se recuperando, como evidenciado pelos números publicados na sexta-feira. Há receio de que os resultados do quarto trimestre dos EUA decepcionem. E a economia da zona do euro está ressurgindo, o que dá um impulso à moeda comum.
Mas… a ameaça de paralisação do governo dos EUA é onipresente e se tornou uma espécie de circo anual. A inflação mais acelerada ajudou a impulsionar os rendimentos de títulos do Tesouro com vencimento em dois anos para 2 por cento, o que deve atrair os investidores e afastá-los dos níveis de -0,6 por cento prevalecentes em notas alemãs comparáveis. Um dólar mais fraco deve aumentar o lucro para os exportadores dos EUA. E os economistas estão prevendo que a economia dos EUA crescerá 2,6 por cento neste ano, mais que o avanço de 2,2 por cento previsto na zona do euro.
Em segundo plano, aparece o receio de uma guerra comercial entre os EUA e a China. O superávit comercial da China com os EUA aumentou 13 por cento para 1,87 trilhão de yuans (US$ 291 bilhões) no ano passado, de acordo com a administração aduaneira da China.
Mas, como o yuan está subindo para o seu mais forte valor frente ao dólar em dois anos, o risco de que o presidente dos EUA, Donald Trump, cumpra a ameaça de campanha e rotule a China de manipuladora cambial parece remoto, especialmente porque ele voltou atrás em relação a essa postura em abril.
Na segunda-feira, Andreas Dombret, membro do conselho do Bundesbank, revelou que o banco central alemão decidiu adicionar o yuan chinês às moedas que usa em suas reservas estrangeiras. A participação do yuan nas transações globais da principal rede do mundo, no entanto, continua sendo minúscula.
A moeda chinesa representou apenas 1,75 por cento das transações em toda a rede SWIFT em novembro, abaixo da média dos últimos três anos, de quase 2 por cento. O euro, por sua vez, continua com cerca de um terço do mercado, depois de ter superado 40 por cento na maior parte de 2011 e 2012.
Embora a participação do dólar, de 39 por cento, seja a mais baixa desde fevereiro de 2014, ela está em linha com sua média de seis anos e ficou acima do patamar de menos de 30 por cento registrado durante a maior parte do primeiro semestre de 2012.
Por enquanto, o dólar continua sendo a moeda preferencial para as transações internacionais. Apesar de sua fraqueza atual no mercado, as notícias sobre a morte do dólar ainda são extremamente exageradas.
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