Nova onda de reestruturação de dívida impulsiona fusões na AL

Por Cristiane Lucchesi.

Uma nova onda de reestruturação de dívida por toda a América Latina deverá impulsionar as fusões e aquisições em um momento no qual muitas empresas não encontram outra forma de obter recursos.

“A maioria das transações existentes exige crédito e, quer seja um investidor ou banqueiro, ou você descobre como fazer isso ou não terá negócio”, disse Jim Allen, chefe de fusões e aquisições do Morgan Stanley na América Latina, em entrevista, em Nova York. Ele acrescentou que muitos fundos de private equity passaram a prover não somente capital, mas também crédito.

Entre as principais iniciativas de reestruturação estão empresas como a operadora de telefonia celular brasileira Oi, que contratou a PJT Partners para reestruturar R$ 60 bilhões (US$ 16,7 bilhões) em dívidas depois que uma proposta de fusão com a unidade da Telecom Italia no país caiu por terra. No mês passado, a petroleira colombiana Pacific Exploration Production ganhou mais prazo de alguns de seus detentores de títulos após descumprir pagamentos de juros. A construtora mexicana ICA atrasou pagamentos de US$ 1,35 bilhão em títulos em dezembro e vem tentando trabalhar em um acordo com os credores.

A primeira onda de reestruturações remonta a 2014, quando uma investigação sobre suposta corrupção na Petrobras deixou a empresa e suas fornecedoras com restrição de crédito.

Neste mês, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi detido e interrogado como parte do inquérito de corrupção em um novo sinal de que a estabilidade política ainda não chegou à maior economia da região.

A economia da América Latina como um todo deverá encolher 0,8 por cento neste ano após uma contração de 1,2 por cento em 2015, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os economistas projetam que a economia do Brasil se contrairá em 3,3 por cento neste ano após um declínio de 3,8 por cento no ano passado.

Vendas de ativos

A recessão, a turbulência política e a queda dos preços das commodities e do petróleo se somaram aos aumentos das taxas de juros, tornando mais difícil para as empresas gerar fluxo de caixa livre. Assim, as vendas de ativos estão na ordem do dia para honrar os pagamentos de dívida.

“Ativos que nunca pensamos que viriam ao mercado agora estão à venda porque algumas empresas e setores estão em dificuldades financeiras e as multinacionais estão anunciando enormes planos de desinvestimento”, disse Marcus Silberman, codiretor de fusões e aquisições do Bank of America Merrill Lynch para a América Latina.

A Duke Energy, maior empresa de energia dos EUA, contratou assessores para vender suas usinas de energia nas Américas Central e do Sul depois que as condições de seca e a crise econômica no Brasil prejudicaram as operações. A mineradora multinacional Anglo American está vendendo suas minas brasileiras de nióbio e fosfato. O Citigroup planeja vender suas operações de banco de varejo no Brasil, na Argentina e na Colômbia.

O volume total de fusões e aquisições na América Latina e no Caribe subiu 14 por cento até agora em 2016 na comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 26 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg. O aumento surge depois que o volume total de fusões e aquisições em 2015 caiu 28 por cento, para US$ 130,4 bilhões, mostram os dados.

Um otimismo cauteloso pode ser justificado, segundo Ignacio Benito, chefe de assessoria de fusões e aquisições do JPMorgan na América Latina.

“Estimamos que os níveis de fusões e aquisições aumentarão de alguma forma neste ano na América Latina porque as empresas estão se acostumando mais aos novos níveis de preço, que parecem ter chegado para ficar”, disse Benito.

Martin Sanchez, outro codiretor de fusões e aquisições do Bank of America na América Latina, disse que a situação na região é complicada porque a percepção de risco aumentou.

“Quando você tem volatilidade, geralmente é mais difícil conseguir que compradores e vendedores cheguem a um acordo sobre o preço”, disse ele.

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