Nova proposta da Oi dá a credores fatia menor do que queriam

Por Cristiane Lucchesi e Fabiola Moura.

A Oi SA apresentou uma nova proposta de reestruturação, oferecendo a detentores de títulos uma participação de até 38 por cento após três anos. É bem menos do que a fatia de 95 por cento sugerida por um importante grupo de credores. A diferença arma o cenário para uma disputa acirrada em torno da recuperação judicial da operadora.

Segundo documentação apresentada na quarta-feira, os detentores de aproximadamente R$ 32 bilhões em títulos receberiam uma participação imediata no capital de até 25 por cento, mais até R$ 3,9 bilhões em títulos conversíveis em uma fatia adicional de 17 por cento da empresa após três anos. A conversão dessa dívida diluiria as ações, portanto os detentores dos títulos poderiam ficar com uma participação de até 38 por cento. A companhia tem opção de pagar a dívida conversível antes do vencimento.

“Qualquer proposta que diga que os atuais acionistas não vão sair com nada da empresa ou os atuais credores não vão receber nada dificilmente vai ter apoio desses públicos então a gente não consegue prosperar,” o presidente da Oi, Marco Schroeder, disse em teleconferência hoje. A Oi deve apresentar a proposta divulgada ontem, que considera mais “equilibrada,” ao tribunal. “É importante que a gente conclua esse processo esse ano.”

Embora todos concordem que a quarta maior operadora de telefonia móvel do País precisa resolver seu endividamento para se tornar mais competitiva, as diferentes partes envolvidas não conseguem se entender sobre exatamente como a companhia, com sede no Rio de Janeiro, faria isso. Na sua última proposta, a Oi descartou qualquer injeção de capital novo, outro ponto que deve desagradar muito os investidores.

“Mesmo reconhecendo os esforços da Oi para integrar as sugestões dos detentores dos títulos em seu plano de recuperação, o plano não inclui uma injeção de capital por um novo investidor – o que, a nosso ver, seria fundamental para dar suporte ao aumento dos investimentos”, afirmou a analista do Itaú BBA Susana Salaru em relatório a clientes com data de quarta-feira. O plano implica desconto de 86 por cento para os detentores dos títulos, segundo Salaru.

Os detentores dos títulos também receberiam até R$ 2,8 bilhões em papéis com vencimento em 2027 e cupom de 6 por cento, com pagamento apenas no vencimento, segundo a proposta nova.

O novo plano ainda precisa ser submetido à Justiça e aprovado por credores e outros interessados – um difícil obstáculo a ser superado. É provável que a proposta desagrade, pois os credores já argumentaram que a proposta anterior da Oi era generosa demais com os atuais acionistas. Detentores de títulos assessorados pela Moelis & Co. queriam participação no capital de 95 por cento e sugeriram um investimento de US$ 1,25 bilhão para dar a largada na recuperação da operadora.

A rejeição da proposta da Oi pode trazer repercussões relevantes para detentores de títulos e acionistas. A empresa está em recuperação judicial desde junho, deixando o governo, que também é credor por causa de multas não pagas, impaciente com a morosidade. As autoridades preparam um plano de intervenção na Oi, mas o governo ainda prefere uma solução de mercado, afirmou o ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, em 17 de março.

Embora seja “natural” que o governo esteja se preparando para uma possível intervenção, considerando a importância da operadora no país, as operações estão indo bem e os investimentos estão se refletindo em uma maior satisfação dos clientes, disse o CEO da empresa.

A proposta anterior da Oi, apresentada em setembro, foi mal recebida. Desde então, o grupo assessorado pela Moelis, junto com o bilionário egípcio Naguib Sawiris, fez um plano próprio. As firmas de private equity Cerberus Capital Management e Elliott Management também elaboram propostas.

No novo plano da Oi, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal receberiam papéis com prazo de vencimento médio mais curto e a condição de a Oi não pagar dividendos até que a dívida líquida represente menos de 2,5 vezes o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

Na quarta-feira, a Oi apresentou o balanço ajustado do quarto trimestre de 2016. O resultado superou as estimativas dos analistas. A empresa realiza uma teleconferência com investidores nesta quinta-feira para discutir os números.

O lucro EBITDA das operações ficou em R$ 1,76 bilhão, segundo a empresa. A estimativa média compilada pela Bloomberg era de R$ 1,71 bilhão. A companhia reduziu custos eliminando empregos e obtendo descontos de fornecedores de call center. A margem de lucro se expandiu, embora o faturamento tenha recuado 5,7 por cento em relação a um ano antes para R$ 6,32 bilhões.

A Laplace Finanças, que vem assessorando o conselho de administração da Oi, recomendou no mês passado que a empresa trocasse as dívidas nas mãos de detentores de títulos por uma participação acionária de até 60 por cento, mais títulos conversíveis. A proposta original de setembro teria dado aos credores títulos conversíveis que poderiam ser transformados em uma participação de até 85 por cento na companhia – mas somente após três anos e se a Oi não pagasse a dívida primeiro.

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