Por Rebecca Greenfield.
A partir do mês que vem, Nova York vai treinar mulheres para negociar aumentos salariais e incentivar que façam isso.
As oficinas de duas horas serão oferecidas nas cinco zonas administrativas que formam a cidade a partir do quarto trimestre. A iniciativa inclui 10 turmas presenciais e há planos para mais turmas em 2020. Um curso online já está disponível. A cidade pretende atingir 10.000 mulheres no total, em um esforço concentrado para reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres.
Em 2016 em Nova York, as mulheres ganharam 88% do que os homens ganharam, segundo pesquisa da Associação Americana de Mulheres Universitárias (AAUW, na sigla em inglês), que analisou o rendimento anual mediano de trabalhadores em jornada integral. É melhor que a média nacional, estacionada ao redor de 80% há quase 20 anos. Apenas a capital Washington e o Estado da Califórnia estão mais perto da paridade.
A igualdade salarial e a emancipação econômica feminina se tornaram questões importantes para autoridades e líderes empresariais. Em 2017, a cidade proibiu os empregadores de pedirem o histórico salarial a candidatos a empregos — prática que costuma prejudicar mulheres e grupos que recebem menos. No ano seguinte, muitos dos grandes bancos americanos divulgaram voluntariamente dados sobre suas diferenças salariais específicas.
Treinar mulheres para negociar salários mais altos “é uma maneira de atuar mais deliberadamente para eliminar as disparidades salariais”, disse Kim Churches, presidente da AAUW, que está financiando e implementando o programa junto com a Corporação de Desenvolvimento Econômico da Cidade de Nova York (EDC). A associação realiza oficinas de negociação em todo o país, incluindo Boston, Kansas City e Washington.
No último ano, a AAUW treinou quase 100.000 mulheres, segundo Churches. Estudos recentes rejeitam a noção de que mulheres não pedem aumento ou não são assertivas quando pedem. Em 2016, uma pesquisa da McKinsey e da organização Lean In concluiu que as mulheres pediam aumentos salariais e promoções tanto quanto os homens, mas com menor probabilidade de receber resposta positiva. Essa estatística fez com que a diretora operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, questionasse os limites dos conselhos que publicou no livro Faça Acontecer – Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar (Lean In, no original em inglês).
Pesquisa publicada pela Harvard Business Review no ano passado chegou a uma conclusão semelhante e apurou que mulheres e homens se mostravam igualmente confiantes em suas negociações.
O que outros estudos descobriram é que o viés é o que realmente comprime os salários das mulheres. Quando negociam como homens, elas podem ser punidas por agirem de maneira “muito agressiva”. O estudo feito em 2016 por McKinsey e Lean In descobriu que as mulheres que negociam são 67% mais propensas a ouvir que são “intimidadoras”, “agressivas demais” ou” mandonas” do que mulheres que não agem da mesma maneira, ou quando comparadas aos homens em geral.
Ainda assim, a amostra restrita das turmas da AAUW em Boston concluiu que as mulheres se beneficiam das aulas. Uma pesquisa junto a 52 participantes descobriu que 48% usaram as habilidades aprendidas nas oficinas para negociar um aumento salarial no emprego atual ou em uma nova posição. A maioria relatou ter tomado alguma atitude, incluindo pequenos gestos como “ter uma conversa informal com colegas de trabalho” ou se informar sobre o salário praticado no mercado para sua função.
Para Ana Ariño, estrategista-chefe da EDC, este é um dos muitos recursos e ferramentas da cidade que ajudam a “colocar dinheiro no bolso das mulheres”. “O programa faz parte do Women.NYC, iniciativa lançada no ano passado para criar mais oportunidades econômicas para profissionais do sexo feminino em Nova York. Women.NYC também oferece outras oficinas e subsídios e toca uma campanha para espalhar mais estátuas de mulheres pela cidade.