Novo membro da Opep gosta de preços mais baixos do petróleo

Por Grant Smith.

Após defender os interesses dos países exportadores de petróleo durante cinco décadas, a Opep fez uma escolha surpreendente com seu mais novo membro: um país que consome cerca de duas vezes mais petróleo do que bombeia.

A Indonésia regressará à Organização dos Países Exportadores de Petróleo como 13ª nação-membro no mês que vem, cerca de sete anos após suspender sua adesão. O país diz que, como único componente asiático da Opep, oferecerá uma ligação vital com a região onde a demanda está crescendo mais rapidamente. Ainda assim, confrontada por uma despesa de importação de óleo de cerca de US$ 13 bilhões no ano passado, a Indonésia representa uma adição improvável ao clube dos exportadores.

“A aceitação de importadores líquidos de petróleo diz muito sobre a marginalização da Opep”, disse Seth Kleinman, chefe de estratégia energética do Citigroup. A Indonésia “nunca cortará” a oferta, disse ele.

As declarações oficiais que pintam a Indonésia como um canal entre produtores e consumidores não explicam completamente uma decisão que está fundamentalmente em desacordo com a missão da Opep: por que permitir um país que se beneficiará com os preços mais baixos em um grupo criado para sustentar os preços?

O Citigroup diz que este é outro sinal de que a Opep abandonou o papel de defender os preços após escolher, no ano passado, maximizar sua participação de mercado diante da abundância global. A Opep não anuncia nenhuma medida específica de mercado desde 2008.

Decisão estranha

A Indonésia sustenta que seu retorno ao grupo será mutuamente benéfico. Como tanto consome quanto produz, o país poderá oferecer à Opep uma ponte entre os dois lados do mercado petrolífero, disse o ministro de energia, Sudirman Said, em junho.

“É estranho”, disse Jamie Webster, diretor sênior da consultoria IHS em Washington. “Nada mudou drasticamente desde que eles saíram, alguns anos atrás — não é que eles tenham descoberto algum campo como Gawar e agora repentinamente queiram estar no comando das coisas”, disse ele, em referência ao maior depósito da Arábia Saudita.

A Indonésia acredita que a medida garantirá o acesso à oferta de petróleo — o país já está negociando a compra de petróleo iraniano para quando as sanções internacionais forem canceladas — e atrairá investimentos para reanimar seu setor de energia, entre os quais há um projeto para construir uma refinaria com a Arábia Saudita.

“Existe um prestígio associado a fazer parte da organização novamente”, disse Harry Tchilinguirian, chefe de estratégia de mercados de commodities do BNP Paribas.

Mudança nos membros

O barril de petróleo Brent caiu 49 centavos, para US$ 45,63, na ICE Futures Europe, que tem sede em Londres, às 10h58, pelo horário de Londres. O valor de referência global caiu mais de 40 por cento no últimos ano.

A Indonésia deverá produzir 850.000 barris por dia neste ano, segundo um relatório de 13 de novembro da Agência Internacional de Energia, cerca de 789.000 menos do que o país consumiu no ano passado. Entre os estados-membros da Opep, apenas a Líbia, o Equador e o Catar produzem menos.

A mudança no grupo de países-membros ao longo do tempo não é algo inédito. As fileiras da Opep cresceram pela última vez em 2007, quando o Equador foi readmitido após deixar o grupo em 1992. O Gabão saiu em 1995, mas não anunciou nenhum plano de retorno.

Um impacto do retorno da Indonésia poderia ser uma mudança na meta de produção coletiva do grupo, mantida estável nos últimos quatro anos em 30 milhões de barris por dia. As autoridades estão estudando elevar o limite a 31 milhões para incorporar a produção da Indonésia, segundo dois delegados que falaram confidencialmente.

Parte neutra

Essa medida, ainda assim, não significaria nenhuma mudança na produção real do grupo: a Opep desrespeitou o limite atual em todos os meses, menos quatro, desde sua introdução, segundo dados compilados pela Bloomberg. Mesmo um limite maior de 31 milhões de barris seria quase 800.000 por dia a menos do que seus 12 membros bombearam em outubro, mostram dados da AIE.

Um último benefício poderia ser uma solução para anos de desacordo sobre a nomeação de um novo secretário-geral. A Opep vem estendendo o mandato do líbio Abdalla El-Badri — que originalmente deveria ter deixado o cargo em 2012 — porque os países bloqueiam os candidatos propostos pela Arábia Saudita, Irã e Iraque. A Indonésia, que ocupou a posição de secretário-geral em quatro diferentes ocasiões desde 1961, poderia servir como uma alternativa neutra, acima das rivalidades políticas do Oriente Médio.

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