Núcleo de inflação indica momento decisivo contra deflação

Por Simon Kennedy e Enda Curran.

A inflação pode finalmente estar mostrando sinais de vida nas maiores economias do mundo.

Os economistas do JPMorgan Chase estimam que o núcleo médio da inflação — que desconsidera os custos dos alimentos e da energia — nas 33 economias que eles monitoram está próximo do ritmo mais rápido dos últimos 15 anos globalmente após subir 2,4 por cento em outubro. Isso tem dado a eles confiança suficiente para declarar o momento decisivo para preços ao consumidor no mundo.

O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, o vice- presidente do Federal Reserve, Stanley Fischer, e o presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, recentemente sinalizaram as tendências do núcleo da inflação, dando credibilidade ao argumento de que a pior parte da ameaça de deflação global pode ter ficado para trás.

“A força gravitacional é para que as taxas básicas se realinhem com as taxas dos núcleos”, disse David Hensley, diretor de economia global do JPMorgan Chase em Nova York. “Todos os bancos centrais dos mercados desenvolvidos estão vendo uma inflação abaixo de sua zona de conforto e vê-la mover-se para cima fará com que se sintam melhor”.

E à medida que se sentem melhor, bancos centrais como o Fed poderão se distanciar da era da política monetária ultra-frouxa, uma mudança que deverá começar no mês que vem, com os mercados apostando na primeira elevação da taxa de juros dos EUA em nove anos.

O estranho no ninho é o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que disse na sexta-feira que ele e seus colegas “farão o que for preciso” para impulsionar os aumentos de preços.

‘Recuperação iminente’

Se o JPMorgan estiver certo, o trabalho de Draghi poderá acabar sendo mais fácil do que parece no momento. Hensley calcula que a inflação global está a caminho de atingir 2 por cento até o fim deste ano e 2,6 por cento em um ano, contra apenas 1,3 por cento em janeiro passado.

Os economistas do Goldman Sachs também estão estimando que as taxas médias dos núcleos dos países do Grupo dos Sete se moverá para cima nos próximos dois anos e recentemente alertaram os traders dos EUA que as expectativas deles estão baixas demais. Um índice de inflação dos EUA — a inflação implícita para 10 anos, ou a diferença entre os yields sobre as notas do Tesouro e as dívidas ligadas à inflação com esse vencimento — já se recuperou para 1,65 por cento após atingir o nível mais baixo em seis anos, de cerca de 1,38 por cento, em setembro.

“Não existem muitas certezas nas projeções econômicas, mas uma recuperação iminente na inflação global é uma delas”, disse Mark Williams, economista-chefe para a Ásia da Capital Economics em Londres e ex-funcionário do Tesouro do Reino Unido.

Por trás desta confiança está a visão de que a queda recente em direção ao território da deflação foi impulsionada pelo colapso das commodities, com uma desaceleração na China como gatilho, e que ambas as coisas podem estar se estabilizando. Nesse cenário, a inflação em uma base anual deveria acelerar, especialmente em economias nas quais os mercados de trabalho ficaram mais apertados, como EUA e Reino Unido.

Mesmo persistindo a fragilidade das commodities — exposta na segunda-feira com a queda do petróleo bruto para menos de US$ 42 o barril — pode não provocar o impacto deflacionário como fez no passado pelo simples motivo de que os declínios agudos que começaram no fim do ano passado começarão a limpar as leituras de preço ano a ano. O fenômeno climático El Niño também poderá impulsionar os preços dos alimentos.

Permanentemente fraca

No nível básico ainda é difícil avistar algum sinal de aceleração da inflação quase uma década depois de uma crise financeira colocar o mundo em recessão e estimular os temores de deflação.

Apesar de as autoridades de política monetária terem previsto repetidas vezes que a inflação irá acelerar em meio às taxas de juros próximas de zero e a outro programa de estímulo monetário, isso não ocorreu. Este é o caso até de economias como a dos EUA, onde as contratações e os salários aceleraram, levantando dúvidas sobre se a inflação está se comportando como antes ou se corre o risco de continuar fraca permanentemente.

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