Números ajudam a ampliar presença feminina em conselhos

Por Gillian Tan.

O esforço global para ampliar o número de mulheres em conselhos corporativos está levando mais tempo do que deveria. Mas o desempenho recente de empresas que lideram seus pares nesse indicador pode acelerar a mudança.

Um estudo da MSCI publicado neste mês mostra que apenas sete empresas de seu principal índice global, composto por mais de 2.500 membros, têm conselhos dominados por mulheres. Mas, destes sete, mais de metade superaram pares do setor. A lista é liderada pela empresa de varejo de luxo Kering FP, que tem sete mulheres no conselho, composto por 11 pessoas. A proprietária da Gucci teve desempenho superior a todo o índice e também ao índice mais específico de consumo discricionário não apenas em uma medida do acumulado do ano, mas também desde que a empresa contratou mais duas diretoras, em abril de 2016, para que as mulheres fossem maioria.

Embora esta amostra seja pequena, o desempenho superior deste grupo é um dado que respalda investidores pesos-pesados como BlackRock, Vanguard Group e State Street, cada vez mais empenhados em apoiar uma diversidade maior nos conselhos.

É importante ressaltar que há certo embalo nesta área: a proporção de diretorias femininas está aumentando, embora um pouco lentamente. Em outubro, as mulheres detinham 17,3 por cento das diretorias das empresas do MSCI ACWI, contra 15,8 por cento em 2016. O cumprimento da meta de chegar aos 30 por cento é difícil e provavelmente ocorrerá apenas em 2028, um ano depois da projeção anterior da MSCI, de 2027.

Ainda assim, houve progresso: a meta anterior de chegar a pelo menos 20 por cento até 2020 já foi alcançada. As mulheres detêm 21,7 por cento das diretorias de empresas americanas do índice MSCI ACWI e, embora a fatia seja melhor que a média global, as companhias poderiam se esforçar ainda mais. Enquanto nação, os EUA estão notadamente à frente da Ásia, região onde conselhos constituídos inteiramente por homens são bastante comuns, especialmente em países como o Japão. Mas os EUA estão muito atrás de alguns países da Europa, como França, Itália e Noruega, que aplicam cotas de gênero obrigatórias. Por esta base, está atrás também de países como a Índia, que exige que as empresas públicas tenham pelo menos uma mulher no conselho de diretores — um número de base que os EUA deveriam buscar eclipsar mesmo não sendo obrigatório.

A melhora do equilíbrio de gênero nos conselhos de administração das corporações dos EUA pode ser mais fácil de alcançar no clima atual. As denúncias recentes de assédio sexual em vários setores e na vida pública têm abalado o status quo, lançando luz sobre condições e práticas arraigadas que permitiram a continuidade do abuso — e que, em alguns casos, podem impedir o crescimento e a inovação. As empresas agora têm a chance de serem proativas, e não reativas como a Uber Technologies quando adicionou uma segunda e depois uma terceira mulher ao conselho após um escândalo de assédio. Ou como a Creative Artists Agency, que anunciou que reformularia sua estrutura de gestão para incluir mais mulheres após ter a atenção chamada na semana passada pelo New York Times como partícipe da “máquina de cumplicidade” de Harvey Weinstein.

É verdade que a maior parte das maiores empresas dos EUA — ou mais de 98 por cento do S&P 500 — tem pelo menos uma mulher em seus conselhos, mas esse número cai para menos de 75 por cento entre as pequenas empresas de capital aberto, segundo o braço de dados da Institutional Shareholder Services, a ISS Analytics. Portanto, há margem para melhora.

Se as empresas precisarem de mais incentivo para fazer uma mudança, há a questão do desempenho relativamente baixo de empresas com conselhos formados apenas por homens, pelo menos nos EUA.

Em uma escala maior, uma pesquisa recente do Citigroup concluiu que o PIB das economias avançadas poderia crescer 6 por cento se buscassem igualdade de gênero no mercado de trabalho — um benefício econômico bastante real. Não há dúvida de que aumentar a participação no mercado, as horas trabalhadas e a produtividade das mulheres até a paridade será um enorme desafio. Mas, se houver disposição de chegar mais perto e se o tom for definido primeiro no topo ou nos conselhos de administração ao redor do mundo, já será um passo na direção certa.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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