O BC está sendo rigoroso demais?

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

Num mundo em que os principais bancos centrais mantêm juros perto de zero para estimular o crescimento, o BC brasileiro se destaca por prosseguir com o aperto monetário mesmo em plena recessão e com desemprego em alta.

Criticado pelo mercado no 1º mandato do governo Dilma por baixar os juros a nível recorde apesar de a inflação estar acima da meta, o BC de Alexandre Tombini agora eleva os juros em nível maior do que o inicialmente esperado pelo mercado. Em janeiro, por exemplo, os analistas viam a Selic parando em 12,5%. A taxa já está em 13,25%, deve subir mais 0,50 pp esta semana e o mercado aposta que chegará a pelo menos 14% em julho.

Estaria o BC sendo demasiadamente rigoroso e ameaçando agravar ainda mais a recessão? Não para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs. Para ele, é a inflação alta que corrói o poder aquisitivo e o consumo, enfraquecendo a economia, não o juro do BC ou os cortes de gastos do governo. ’’No fim das contas, juro alto é bom para a economia’’, diz Ramos. Para o crescimento no logo prazo, o importante é o juro médio, que será menor se o BC subir mais a taxa no curto prazo e garantir inflação e juros menores mais à frente.

Ramos prevê que a Selic suba até 14% e continue neste patamar até que fique claro para o BC que a expectativa de inflação está ancorada em 4,5%. “O BC deve mostrar que não tem idéias preconcebidas. Deve olhar apenas a inflação”.

O mesmo raciocínio vale para o ajuste fiscal tocado pelo ministro Joaquim Levy. Para o economista do Goldman, o ajuste não deve ser visto apenas como uma política circunstancial, para preparar o País para uma nova fase, e sim como uma mudança definitiva na política econômica. “A verdadeira agenda do crescimento é o ajuste fiscal. O que derrubou a economia nos últimos anos foi o expansionismo dos gastos públicos”. O governo apostava que o aumento dos gastos e do crédito, aliado aos juros baixos, impulsionariam a economia e não ameaçariam a inflação. Ocorreu o contrário.

Além de mais rigor nas políticas monetária e fiscal, também a política cambial exige mudanças, deixando de ser um assessório do combate à inflação. BC poderia ser “mais agressivo” nas reduções das rolagens de swap, permitindo ao dólar flutuar mais, diz Ramos. Com isso, o BC poderia evitar um efeito colateral dos juros altos, que é a atração de dólares via operações de carry trade, que forçam uma apreciação da moeda que é incompatível com a fraqueza da atividade econômica.

O retorno da confiança, segundo Ramos, passa pela perseverança do governo no ajuste mesmo numa situação de elevação do desemprego.“Todo governo, e não apenas o Levy e o Tombini, tem de demonstrar que não hesita com o ajuste”.

Ramos considera que, ainda que no futuro fique provado que o BC subiu o juro um pouco além do necessário e a inflação caia abaixo da meta, para 4%, por exemplo, isso não seria negativo. A meta brasileira de 4,5% seria alta demais e mesmo 4% ainda seria uma inflação elevada. ’’O maior risco não seria o BC exagerar na alta dos juros e nem Levy cortar demais os gastos, e sim o ajuste da economia ser encerrado antes do tempo’’.

A reconquista da confiança perdida seria comparável a um tratamento feito com antibióticos, diz o economista do Goldman, que, assim como o ministro da Fazenda brasileiro, também estudou em Chicago, a Meca da ortodoxia econômica. “Tem de ir até o fim, mesmo com sofrimento. Se o tratamento parar antes do tempo, a infecção volta mais forte e mata o paciente”.

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