O BC vai entregar os pontos?

Notícia exclusiva por Josué Leonel e Carla Simões, com a colaboração de Paula Sambo.

Salvo em caso de uma surpresa absoluta, o Banco Central deve manter a Selic estável em 14,25% na reunião do Copom desta quarta-feira. Os economistas são unânimes e esperam esta decisão diante da mensagem do BC de que a taxa será mantida por tempo prolongado. Isso não quer dizer, contudo, que todos concordem.

Com o IPCA em 2015 perto de 10%, o BC ainda se apega à expectativa de queda da inflação em 2016. Mas o fato desconcertante é que as expectativas para o próximo ano estão piorando. Restaria ao BC assumir a derrota e mudar o foco para 2017. Isso significaria, contudo, aumentar de seis para sete anos o tempo em que a inflação permanecerá acima da meta. Isso, claro, contando que a convergência de fato ocorra em 2017.
 
10-21-2015 9-24-10 AM
 
Desde que Dilma Rousseff iniciou o 1º mandato e nomeou Alexandre Tombini para comandar o BC, em 2011, o Brasil não sabe o que é uma inflação fechar o ano no centro ou abaixo da meta de 4,5%. Desde 2013 a inflação tem ficado perto ou acima do teto da meta, de 6,5%. Este ano, o índice supera em mais que o dobro o centro da meta. Mais do que a inflação corrente ou a passada, porém, o problema maior para o BC é a futura.

O BC parou de subir os juros no Copom passado diante da esperança de que, após a disparada deste ano impulsionada pelos aumentos de tarifas e combustíveis, o IPCA convergiria para a meta em 2016. As expectativas do mercado, contudo, não estão convergindo. Ao contrário, a divergência está aumentando, com a alta do dólar e o déficit fiscal ampliando as incertezas.

A projeção para o IPCA do próximo ano, que era de 5,4% em agosto, vem subindo semana a semana e atingiu 6,12% na última pesquisa do BC com economistas do mercado. Na pesquisa top 5, que reúne apenas os analistas mais precisos, a estimativa é ainda maior, de 6,26%, ou seja, muito mais perto do teto da meta, de 6,5%, do que do centro, de 4,5%.

Seguindo rigorosamente a cartilha do regime de metas, a Selic teria de subir. No entanto, a recessão perto de 3% pode estar deixando o BC cauteloso. Primeiro, porque a queda do PIB ajudaria a diminuir o impacto do dólar sobre a inflação. Segundo, não valeria a pena provocar uma recessão ainda mais profunda apenas para ter uma inflação um pouco menor, sobretudo considerando-se que grande parte do fracasso da economia hoje é resultado da deterioração fiscal, que, por sua vez, é agravada pela crise política, fatores que o BC não consegue controlar.

O fato de a política fiscal estar dificultando o trabalho do BC, porém, não serve como desculpa, diz o economista Alexandre Schwartsman, que foi diretor do banco central de 2003 a 2006, quando Lula comandava o Planalto e Henrique Meirelles, o BC. Ele lembra que os analistas do mercado ficaram céticos quando o governo prometeu reverter o déficit fiscal no começo do ano.“Por que só o BC acreditou?”.

Para o economista, está cada vez mais claro que a meta de inflação não será cumprida em 2016. Ainda assim, ele acredita que o BC vai começar a baixar o juro em algum momento do próximo ano, ainda que as expectativas continuem acima da meta também para 2017. “Eles vão abrir o bico. Não vão suportar manter os juros altos por dois anos”.

A economia poderá piorar ainda mais se as críticas de Lula e membros do PT às políticas fiscal e monetária forem ouvidas, diz Schwartsman, que tem sido um dos economistas mais críticos à política econômica desde que o BC começou a cortar os juros em 2011. “Se o governo passar a gastar mais, vai aumentar ainda mais o déficit fiscal. Se cortar os juros, vai perder ainda mais o controle da inflação”.

O fracasso do BC, por anos a fio, no objetivo de colocar a inflação na meta prejudica a credibilidade da política monetária, diz Schwartsman. Se as expectativas não estão ancoradas, elas perdem valor. Quanto mais o BC demora para recolocar a inflação na meta, menos os empresários levam em conta as expectativas e mais olham para a inflação passada, que hoje é muito mais alta, na hora de definir seus preços. Se as estimativas não são críveis, por que levá-las em conta?

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