O bitcoin está tendo uma crise de identidade

Por Olga Kharif.

O bitcoin foi construído sobre o tipo de etos de fonte aberta que impulsionou gerações de fãs da tecnologia. Mas os mesmos princípios que celebra – uma rede descentralizada de contribuintes, uma base transparente de códigos – estão permitindo que a concorrência floresça. Os fiéis do bitcoin não têm tanta certeza que isso seja algo bom.

Dois desenvolvedores de bitcoins de alto perfil, Gavin Andresen e Mike Hearn, lançaram uma versão alternativa do bitcoin no fim de semana. No linguajar do software, este tipo de ramificação é chamado “fork” (bifurcação). Hearn reconheceu em uma publicação de blog que nem todos estão entusiasmados com a iniciativa. “A comunidade está dividida”, escreveu ele. “Um fork semelhante nunca aconteceu antes”.

Na verdade, a criação de forks é bastante comum no software. Depois que a Google criou o Android, que se tornou o sistema operacional de smartphones mais popular do mundo, a Amazon.com, a Nokia e outros fabricantes de dispositivos criaram suas próprias versões, em parte para diferenciar seus produtos. A Google permite fazer algumas modificações no Android, mas tenta desencorajar mudanças drásticas retendo sua loja de aplicativos de dispositivos incompatíveis. Chame-o de fonte semiaberta. Muitos programas com muitíssimo sucesso começaram como forks, como a plataforma de blogs WordPress e o WebKit, que roda alguns dos navegadores de internet mais populares da atualidade.

Mas se separar de um grupo existente de contribuintes para criar um produto concorrente “é uma prática considerada como último recurso”, segundo um relatório de pesquisa que examina várias centenas de instâncias de criação de forks. “Nossa investigação mostra, entre outros resultados, que os forks ocorrem em todos os domínios do software, que eles se tornaram mais frequentes nos últimos anos e que muito poucos forks se fundem com o projeto original”. O estudo descobriu que cerca de 44 por cento dos forks tiveram sucesso; em quase 30 por cento dos casos, o software original foi descontinuado, e 14 por cento dos forks acabaram sendo eliminados. É um histórico sólido.

Bitcoin XT

O novo software, chamado Bitcoin XT, tem muito menos apoio do que o original, mas está ganhando adeptos rapidamente. Ele já responde por 8,4 por cento dos computadores que rodam o software de bitcoins, segundo a XTnodes, que acompanha o bitcoin. O preço do bitcoin caiu um pouco depois da estreia do Bitcoin XT, o que talvez reflita a preocupação de que uma alternativa possa afetar o valor do bitcoin.

Muitos defensores do bitcoin se opõem a uma versão ramificada pelos mesmos motivos que levaram os diretores do Linux e do Android a manifestar objeções a projetos similares anteriormente: eles dividem a comunidade de desenvolvedores, o que acarreta que menos pessoas podem trabalhar com cada versão. Muitos forks também se tornam incompatíveis com seus antecessores. Isso poderia criar barreiras desnecessárias para que pessoas com moedas diferentes intercambiem dinheiro.

Apesar do fervor na comunidade do bitcoin, as chances não estão a favor do Bitcoin XT. “Essa não é a primeira tentativa de criar um bitcoin melhor, mas acho que o bitcoin tem uma massa crítica de recursos dedicados a ele tão grande que é improvável que alguém abandone-o por uma melhoria incremental”, diz Gil Luria, analista da Wedbush Securities. “Nenhuma conquistou muitos adeptos”.

Seja como for, um pouco de concorrência amistosa poderia ser bom para o bitcoin. “A criação de forks pode servir de catalisador para a inovação e, ao mesmo tempo, promover um software de melhor qualidade através da seleção natural”, segundo um artigo de pesquisa de 2013. Talvez o equivalente do darwinismo no software seja exatamente o que o bitcoin precisa.

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