O Brexit causará um êxodo dos bancos de Londres?

Por Gavin Finch.

Parte da razão pela qual Londres prosperou durante décadas como centro financeiro é que os bancos globais com escritórios na City podiam vender seus serviços sem restrições por toda a União Europeia. Após o eleitorado britânico votar pela saída do bloco comercial de 28 nações — o complicado divórcio internacional conhecido como Brexit —, o status da cidade como centro bancário internacional está ameaçado. As firmas britânicas podem perder acesso à economia europeia, que movimenta US$ 19 trilhões. Esse cenário parece provável sob os termos apresentados pela primeira-ministra Theresa May e faria do Reino Unido um local bem menos atraente para os negócios.

1. Qual é a magnitude da perda para Londres?

Londres pode perder 10.000 postos de trabalho em bancos e 20.000 em serviços financeiros, pelos cálculos do instituto de pesquisas Bruegel, sediado em Bruxelas. Outras estimativas variam muito — de 232.000 a 4.000 vagas —, portanto costumam ser vistas com ceticismo. Bancos como Morgan Stanley, Citigroup, Deutsche Bank e JPMorgan Chase estudam transferir pessoal e operações para prestar serviços a clientes da UE. Londres é a cidade que emprega aproximadamente 90 por cento dos funcionários da UE dos cinco maiores bancos de investimento dos EUA.

2. Quais operações podem estar de mudança?

Ninguém sabe ao certo, mas potencialmente qualquer operação de front-office ou back-office com clientes na UE talvez precise fazer as malas. Um exemplo provável é a liquidação de transações em euros, um serviço que colabora para a conclusão de transações de modo seguro e dentro do preço de execução. A UE tenta retomar o controle de uma função tradicionalmente realizada por câmaras de liquidação sediadas em Londres: a compensação de transações com derivativos denominados em euros.

3. Quando o movimento deve começar?

De certo modo, já começou. Bancos globais iniciaram o processo de transferir algumas operações sediadas no Reino Unido para escritórios novos ou expandidos dentro da UE. Alguns profissionais não britânicos estão voltando a seus países de origem. Há gente cansada de não saber se perderá o emprego ou conseguirá uma transferência e se colocando à disposição para voltar para a terra natal na UE caso o empregador precise relocar pessoal. Diante da pressão dos órgãos reguladores da UE e do Reino Unido, as instituições financeiras não perdem tempo e elaboram planos de contingência para sair de Londres antes que o Brexit se concretize. Das 222 firmas que monitoradas pela consultoria EY, 59 relatam ter começado a retirar pessoas do Reino Unido ou estão fazendo essa revisão. Tudo indica que o Reino Unido sairá da UE até março de 2019.

4. Existe outro caminho?

Não. Embora May tenha dito que deseja um “acordo ousado e ambicioso de livre comércio” com a UE — um pacto que garanta os direitos dos bancos de fornecer serviços em todo o continente —, autoridades europeias indicaram que não vão tolerar arranjos nos quais profissionais de bancos com base em Londres fazem viagens rápidas a trabalho para manter a situação atual.

5. Houve alguma mudança com as últimas eleições no Reino Unido?

Sim, mas pouco se sabe neste sentido. A esperança de May era que seus correligionários do Partido Conservador aumentassem a bancada na Câmara dos Comuns, ampliando a maioria parlamentar dela para que não precisasse aplacar nem os céticos em relação ao euro nem os defensores da permanência no bloco. Em vez disso, ela acabou com um governo de minoria. O resultado diminuiu a autoridade pessoal dela e ameaça reiniciar a guerra civil dentro do partido dela em relação à UE. O mais provável agora é que a primeira-ministra precise suavizar seus planos, talvez mantendo o Reino Unido dentro da união alfandegária, permitindo que o Tribunal Europeu de Justiça continue desempenhando um papel no país ou flexibilizando controles de imigração para preservar laços com o mercado único. Há quem diga que o Reino Unido terminará dentro da Área Econômica Europeia, como a Noruega, pelo menos durante um período curto. Mas os defensores mais acirrados do Brexit podem se voltar contra a primeira-ministra. Sendo assim, as eleições aumentaram a probabilidade dos dois desfechos mais extremos do Brexit, inclusive com o Reino Unido saindo atropeladamente e sem acordo.

6. O que os bancos desejam?

Eles querem uma transição bem administrada para um novo relacionamento comercial — não a mudança súbita que May comparou à queda de um “penhasco”. Existem ideias diferentes sobre como chegar a essa situação. O setor financeiro defende um arranjo que preservaria as regras existentes durante quatro ou cinco anos até que as novas regulamentações entrem em vigor. May propõe a adoção gradual de novas regras.

7. Como é o novo sistema que eles desejam?

Os executivos dos bancos desistiram há tempos de preservar o chamado direito de passaporte, que permite que os bancos globais com base em Londres prestem serviços ao resto da UE. Em vez disso, eles focaram em garantir uma versão da “equivalência” regulatória — ou um reconhecimento formal pela UE de que as regras e as medidas de supervisão do Reino Unido para determinados negócios são tão rígidas quanto as suas próprias. Isso abriria caminho para continuidade ou retomada de negócios transnacionais que seriam analisados caso a caso.

8. Para onde irão os banqueiros que hoje trabalham em Londres?

Frankfurt emergiu como principal alternativa. Standard Chartered, Nomura Holdings, Sumitomo Mitsui Financial Group e Daiwa Securities Group escolheram a cidade alemã. Citigroup, Goldman Sachs Group e Morgan Stanley também estudam se mudar para lá. Já o Barclays considera Dublin, a capital da Irlanda. O JPMorgan planeja expandir seus escritórios em Frankfurt, Dublin e Luxemburgo. No entanto, nenhum local na Europa chega aos pés de Londres em termos de profundidade dos mercados, variedade de conhecimento e apelo regulatório. Os bancos irão transferir algumas operações para o continente para garantir acesso aos mercados nos fusos horários da Europa, mas podem até partir para Nova York, que pode ser a única cidade que genuinamente oferece todas as opções em finanças após o Brexit.

9. Quantas pessoas seriam envolvidas?

Se as estimativas mais altas estiverem corretas, o número de profissionais de bancos de mudança seria equivalente a 10 por cento das 2,2 milhões de pessoas que, segundo o grupo de lobby TheCityUK, trabalham em finanças e profissões relacionadas no Reino Unido.

Agende uma demo.