Por Josué Leonel e Daniela Milanese com a colaboração de Marisa Castellani.
Pouco mais de uma semana após aumentar o volume dos swaps reversos para 15.000 contratos nos leilões diários no mercado de câmbio, o Banco Central reduziu o lote para os 10.000 iniciais da gestão Ilan Goldfajn, ajudando a conter a alta do dólar nesta sexta-feira. A mudança foi vista com reservas por alguns operadores, dado o discurso de Ilan em favor do câmbio flutuante. Outros especialistas, porém, compreendem as idas e vindas do BC no câmbio. Enquanto o país não passar por reformas mais profundas, um câmbio flutuante puro, sem qualquer intervenção, seria impraticável.
Dólar cai e BC reduz estoque de swaps cambiais
A mudança de volume no leilão do BC surpreendeu o mercado. O BC reduziu o volume após o dólar subir menos de 2% nos três dias anteriores. Alguns analistas consideravam que só com uma alta mais forte da moeda americana o BC tomaria uma decisão. A corretora Correparti disse que a mudança no leilão sugere que o BC, apesar de insistir que não interfere nos preços, mira um câmbio entre R$ 3,10 e R$ 3,20. Win Thin, estrategista-chefe para emergentes da Brown Brothers Harriman, em Nova York, disse que ajuste sugere autoridade monetária confortável com câmbio em torno de R$ 3,20.
O câmbio flutuante é uma “aspiração do BC”, mas o país ainda não tem fundamentos suficientes para permitir ao BC deixar o dólar flutuar com liberdade plena, como nos países mais avançados, diz o especialista em câmbio Nathan Blanche, da consultoria Tendências. Blanche observa que o BC interveio pesadamente no câmbio com swaps de câmbio tradicionais de 2013 a 2015 e, agora, precisa sair dessas posições com os swaps reversos.
Além da necessidade de limpar o estoque de swaps, o BC opera em um ambiente de elevadas incertezas econômicas e políticas que ajudam a manter o câmbio volátil, exigindo alguma presença da instituição no mercado. As ações do BC no câmbio tendem a diminuir com o tempo, diante do perfil menos intervencionista da atual diretoria, porém uma redução mais substancial depende do sucesso do governo nas reformas.
É preciso fazer o ajuste fiscal, avançar na abertura do comércio exterior, ter regras mais estáveis e elevar a produtividade da economia, diz Blanche sobre as condições necessárias para o câmbio no Brasil ganhar mais credibilidade e previsibilidade. “O preço do dólar, assim como a taxa de juros, é o resultado dos fundamentos do país, e não a causa”, diz o consultor. Sem as mudanças profundas na economia, o país terá que seguir praticando uma flutuação “suja” do câmbio, sem abrir mão de intervenções, disse Blanche.
Para Mauricio Oreng, estrategista-sênior do Rabobank, a diminuição do volume nos leilões de swap reverso faz sentido, embora tenha ocorrido antes do esperado. Para ele, a mudança foi compatível com o discurso do BC de não interferir na cotação do dólar. “Sigo com a percepção de que o BC está fazendo o que está falando, deixar que o câmbio flutue e que a tendência da moeda seja ditada pelo mercado”.
O mercado vai esperar que, daqui para frente, se o real se descolar muito de seus pares, o BC ajuste o tamanho dos lotes nos leilões de swaps rapidamente, diz Luiz Eduardo Portella, sócio gestor da Modal Asset. “O BC não vai interferir na direção do real em relação aos pares, mas na volatilidade”.
O Banco Central respondeu que não comenta assuntos de câmbio, ao ser questionado sobre as discussões no mercado em torno dos leilões de swaps reversos.
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