Por Josué Leonel.
A ata do Copom divulgada nesta terça-feira reforçou o sinal de cautela do Banco Central com o ritmo de queda ainda insuficiente da inflação e ao fato de as reformas do governo Temer estarem no início de um longo caminho. Como resposta, o mercado reduziu as apostas em cortes mais agudos dos juros. Esta cautela do BC, contudo, tem um efeito paradoxal positivo. Ao pressionar o dólar para baixo, pode favorecer as expectativas inflacionárias e, em um segundo momento, abrir espaço a cortes maiores dos juros – justamente a expectativa que o BC parece tentar evitar agora.
Se antes do Copom o mercado via maiores chances de um corte de 0,50 ponto percentual da Selic em novembro, agora a precificação dos contratos futuros negociados na BM&F mostra que os investidores ficaram mais divididos, com as apostas inclinando ligeiramente para uma redução menor, de 0,25 pp. “O BC quer passar a mensagem de que o mercado tem de ir com calma”, diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING em Nova York.
Os principais recados da ata divulgada hoje haviam sido antecipados no comunicado do Copom, que cortou a Selic em 0,25 pp na semana passada. A mensagem é que a inflação, sobretudo de serviços, ainda não caiu o suficiente para o BC acelerar o corte do juro. Além disso, as expectativas inflacionárias ainda seguem acima da meta de 4,5%.
Outro ponto que o BC destacou é que as reformas fiscais, principal âncora do otimismo do mercado com o governo Temer, são um processo longo. Ou seja, não é o caso de ir com sede demais ao pote. Mesmo que a PEC do teto dos gastos passe hoje na Câmara em segundo turno, por exemplo, ainda faltarão outros dois turnos no Senado. E a reforma da previdência, sem a qual o próprio teto terá pouco efeito, ainda sequer foi enviada ao Congresso.
Apesar da relativa surpresa, o mercado tem aprovado a cautela de um BC que se mostra diferente da gestão anterior, muito criticada em 2012 por levar a Selic a um nível recorde de baixa mesmo com a inflação acima do centro da meta. E essa cautela do BC, combinada ao otimismo com as reformas e ao fluxo originado pela repatriação de recursos, pressiona o dólar para baixo. Desde o Copom, o real se apreciou 2%, segunda melhor moeda emergente após o peso chileno. No ano, a moeda brasileira lidera o ranking, com +27%.
Esta queda do dólar é um dos motivos de parte do mercado ainda não ter abandonado de todo a aposta de que o BC poderá acelerar o corte da Selic para 0,50 pp ainda em novembro. O dólar desde ontem vem se aproximando de R$ 3,10, um valor menor do que os R$ 3,20 considerados nas projeções da ata do Copom e os R$ 3,30 do último relatório trimestral do BC. “Se esta queda do dólar afetar as projeções de inflação, isso pode influenciar a decisão do BC”, diz Rangel.
Além da cautela do BC e do nível do câmbio, muitos outros fatores vão estar na mesa até a próxima decisão do Copom. “A porta para os 50 bps na próxima reunião não foi fechada”, diz Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset. “Vai depender da aprovação da PEC do teto de gastos nesta terça e do seu encaminhamento no Senado no mês de novembro – dado que o próximo Copom é no último dia de novembro -, além da necessidade de ocorrer melhora na inflação corrente e das expectativas até lá.”
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