Por Ralph Cope.
Qual será o impacto do Brexit em moedas latino-americanas a longo prazo?
Em 24 de junho, os mercados globais reagiram bruscamente à notícia de que o Reino Unido tinha votado para sair da União Europeia, e as moedas latino-americanas não foram poupadas no massacre. O índice de dólar americano Bloomberg-JP Morgan Latin America, que mede o desempenho de uma cesta ponderada das moedas da América Latina versus dólar norte-americano, teve queda de 1,1% na sexta-feira após a votação e de 2,04% na segunda-feira seguinte. Na terça-feira, a hemorragia tinha parado e no fechamento da quarta-feira todas as perdas tinham sido recuperadas, enquanto o índice moveu para território positivo e teve o maior fechamento desde o final de abril.
A pergunta que muitos investidores estão fazendo agora é se a saída do Reino Unido da UE resultará em mudanças estruturais e fundamentais nas economias da América Latina, ou se a reação do mercado foi simplesmente um exagero em relação a um evento externo que provavelmente tenha o mínimo impacto sobre essas economias e suas moedas a longo prazo? Para responder esta pergunta, é necessário analisar o Brexit dos pontos de vista econômico e de mercados financeiros.
Comércio com a UE
Qual é a ligação econômica entre a América Latina e o Reino Unido? Em 2015, os seis países que compõem o índice de dólar americano Bloomberg-JP Morgan Latin America (Brasil, México, Chile, Argentina, Colômbia e Peru) tiveram um total de negociações com o Reino Unido de $ 14.3 bilhões. Por outro lado, o total de negociações com a China foi de $ 244.8 bilhões e com os EUA de $ 634 bilhões.
Algumas pessoas argumentam que o impacto do Brexit vai além do Reino Unido e também gera dúvidas sobre o futuro da própria União Europeia. O comércio total com as cinco maiores economias da UE, excluindo o Reino Unido (Alemanha, França, Itália, Espanha e Países Baixos, que compõem quase 75% do PIB nacional da UE) é de $ 157.4 bilhões. Esse valor é ainda menor do que os 18% do comércio feito com a China e com os Estados Unidos. Apesar de existirem algumas empresas públicas individuais que geram mais de 20% de suas receitas provenientes da UE – Mexichem, Nemak, SQM e Cemex – para a região da América Latina como um todo, a UE desempenha um papel desproporcionalmente pequeno, dado o peso geral da UE na economia global.
Brexit a longo prazo
Como o Brexit afeta a América Latina sobre o ponto de vista dos mercados financeiros? Pode-se argumentar que é de maneira negativa a curto prazo, mas positiva a médio/longo prazo. Simplisticamente, o Brexit aumenta o grau de incerteza nos mercados financeiros a curto prazo. Quando os investidores estão assustados, eles vendem ativos de risco, como ações, títulos e moedas da América Latina, e compram ativos mais seguros, como ienes japoneses e títulos do Tesouro norte-americano.
Um fato indiscutível é que pós-Brexit, a probabilidade de um aumento da taxa de juros do Fed em 2016 caiu drasticamente. Vinte e quatro horas antes do referendo do Reino Unido, a probabilidade de um aumento da taxa do Fed em dezembro de 2016 era de 50%. No final de junho, essa probabilidade tinha sido reduzida para 12%. Para o Reino Unido, a zona do euro e o Japão, a probabilidade de um aumento de taxas é zero, com uma tendência dos bancos centrais serem mais brandos a médio e longo prazo. Diante de uma taxa de juros baixa-para-negativa contínua, que resulta em uma abundante liquidez mundial, a grande consequência é como isso aumenta o apetite para rendimento. Com os bancos centrais da América Latina mais inclinados a aumentarem as taxas de juros para protegerem suas moedas e mitigar o repasse da inflação, os rendimentos dos instrumentos de renda fixa da América Latina podem se tornar muito atraentes para serem ignorados. Isso poderia resultar na região emergir mais forte, ao invés de mais fraca, em relação ao impacto do Brexit a longo prazo.
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