Por Jonathan Tyce e Arjun Bowry.
O boom de crédito imobiliário e as margens brasileiras correm riscos com a piora da situação econômica
A perspectiva de rápida deterioração para a economia brasileira e a mudança nas regras de financiamento aplicadas aos bancos do país estão ameaçando minar margens, desacelerar o crescimento de empréstimos e aumentar a insolvência. A desaceleração do crescimento de crédito pode ser em parte compensada pela disposição para aplicar ferramentas políticas, como a diminuição de reservas obrigatórias.
A diferença de comportamento entre bancos públicos e privados provavelmente aumentará, com a Caixa e seus colegas eliminando cotas por conta das retrações em bancos estrangeiros. Créditos imobiliários no Brasil subiram ao menos 25% ao ano desde 2008.
Impacto: Os bancos públicos Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, e os privados Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil, são os maiores credores de varejo no país. Esses bancos provavelmente sofrem mais impactos pela desaceleração no crescimento em imóveis e pelo desemprego crescente.
O panorama de queda do PIB brasileiro prejudica a perspectiva para financiamentos e a insolvência
A previsão consensual para o PIB brasileiro caiu para menos 1% para esse ano, ante 0,5% no final de fevereiro, com perspectivas de economistas para 2016 caindo em um terço, a 1,2%. A recuperação econômica do país desde 2008 foi significativa para o crescimento em créditos hipotecários, e provavelmente a desaceleração terá um impacto similar, no sentido negativo.
A previsão para o desemprego em 2016 é de 6,7%. Hoje esse número está em 5,8%. Isso provavelmente vai gerar mais provisões de tráfego e cobranças, além de desacelerar o crescimento do nível de crédito dos bancos.
Impacto: Os bancos públicos Caixa Econômica Federal, BNDES e Banco do Brasil, e os privados Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, são os maiores credores do país em ativos. Juntos, esses bancos contabilizam quase 80% dos ativos do sistema bancário.
Queda em poupança pode descarrilar o crescimento de crédito imobiliário na Caixa e em colegas
Os depósitos em poupanças no Brasil caíram no primeiro trimestre pela primeira vez em nove anos, o que pode desacelerar a possibilidade de os bancos expandirem agressivamente os empréstimos imobiliários. De acordo com as regras locais, ao menos 65% dos depósitos bancários em poupanças devem ser usados para financiar créditos imobiliários. A queda de R$12,4 bilhões em depósitos de poupanças no primeiro trimestre leva a ao menos US$2,6 bilhões a menos garantidos aos créditos imobiliários, destacando a necessidade de os bancos encontrarem outras fontes de financiamento. Ao bancos brasileiros concederam US$10 bilhões em novos financiamentos imobiliários no primeiro trimestre.
Impacto: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander juntos possuem 45% das contas poupança do país. Retiradas de contas poupança por clientes provavelmente gerarão mudanças nas estruturas fundiárias desses bancos.
A mudança na política brasileira é o primeiro passo e libera US$7 bilhões em créditos imobiliários
O Banco Central brasileiro decidiu em 28 de maio permitir que bancos deduzissem até 18% em requerimentos de reservas obrigatórias com a condição de que elas fossem usadas para apoiar o financiamento de créditos imobiliários.
Segundo reportagem do jornal O Globo, a indústria de construção brasileira tem realizado ativamente lobbys para que o governo relaxe os requisitos. O Banco Central estima que isso possa liberar mais de US$7 bilhões em capacidade para o setor imobiliário, bem como quase US$1 bilhão para o segmento de agronegócio. Mais mudanças políticas devem ocorrer no futuro.
Impacto: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander coletivamente possuem 95% dos depósitos de poupanças brasileiros, e seriam mais impactados por mudanças em requisitos para esses depósitos.
Cartas de crédito mudam a dinâmica e erodem margem de intermediação para empréstimos imobiliários brasileiros
O Banco do Brasil e o Bradesco mais que dobraram o total arrecadado com cartas de crédito imobiliário (LCIs) no primeiro trimestre, em comparação com o 1T14, com credores buscando fontes ou financiamentos alternativos a contas-poupança tradicional para fundos hipotecários. As saídas líquidas de depósitos em poupanças totalizaram R$29 bilhões nos primeiros quatro meses de 2015. A mudança para as LCIs pode prejudicar as margens líquidas de juros (NIM), considerando que as LCIs do Banco do Brasil possuem rendimento anual de 10,5%, mais alto que a taxa de 7,5% das poupanças, de acordo com dados do final de abril.
Impacto: Tanto o Banco do Brasil quanto o Bradesco mais que dobraram a quantia arrecadada com LCIs no primeiro trimestre. Se as saídas líquidas de poupanças continuarem no segundo trimestre, o Santander e o Itaú provavelmente também emitirão mais dessas notas.
Salto em desemprego sinaliza ameaça a preços de casas no país
O aumento na taxa de desemprego brasileira para 6,4%, mais alta em quase quatro anos, impõe ameaça significativa aos preços de moradias. Os valores residenciais tiveram um CAGR (crescimento anual) de 3% no mesmo período. O aumento maior que o normal nos preços das casas pode diminuir a demanda por créditos hipotecários, que estão entre os focos principais de bancos privados como o Santander.
Impacto: Com a deterioração das condições da economia, os maiores credores brasileiros (Itaú, Bradesco e Santander Brasil) focaram em empréstimos de baixo risco. Crédito consignado e hipotecas formam parte importante da estratégia, e esses três bancos tiveram aumento médio de 28% por ano em créditos imobiliários desde 2012.