O fluxo externo que ainda não veio

Por Daniela Milanese e Josué Leonel, com a colaboração de Rafael Mendes, Vinícius Andrade e Giulia Camillo.

Mais de dez meses após Dilma Rousseff ter sido substituída por Michel Temer, em 12 de maio, o boom de investimentos no país continua sendo apenas uma esperança. O fluxo de capitais segue negativo e os investidores internacionais têm uma lista de condições ainda não cumpridas para trazer somas maiores, que inclui a retomada do crescimento econômico após dois anos de recessão profunda, a concretização das reformas e um horizonte mais claro sobre o cenário eleitoral em 2018. A insegurança externa é reforçada ainda pelas incertezas deixadas pela Lava Jato e o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE.

O estrangeiro ainda não comprou totalmente a história da recuperação do país, apesar do rali recente dos ativos, disse Gustavo Rangel, economista do ING para América Latina em Nova York. “Tem muito investidor esperando a aprovação da reforma da Previdência para apostar grande no Brasil.”
A expectativa é de que o texto passe até o segundo semestre deste ano. Mas, se até meados de maio a reforma seguir sem aprovação na Câmara, os ativos brasileiros começarão a mostrar fraqueza, segundo o economista.

“O fluxo de investimentos está condicionado às reformas”, diz Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. Para ela, o mercado quer ver pelo menos um sinal mais forte do governo de que as mudanças serão implementadas. Esse sinal ao investidor poderia vir, por exemplo, de uma aprovação da reforma da Previdência na comissão da Câmara por larga vantagem.

O lado positivo da insegurança dos investidores estrangeiros é que, se as reformas passarem, será possível ver uma nova rodada de valorização dos ativos brasileiros, que estancaram os ganhos nos últimos meses. Para Rangel, o dólar pode cair abaixo de R$ 3,00 se reforma da Previdência for aprovada.

A visão externa sobre o país está “mais construtiva”, mas existem incertezas, como a questão fiscal, economia ainda fraca e desemprego elevado, diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs para a América Latina. “O estrangeiro ainda não apostou muito forte no país.”

Removidas ou reduzidas as incertezas, a entrada de dólares atraídos pelos ainda altos juros brasileiros poderia fazer o dólar cair a R$ 2,75, levando o BC a ter de comprar reservas ou fazer leilões de swap reverso, diz Ramos.

A lista de incertezas políticas inclui também 2018. O principal receio do mercado é de que a crise abra espaço a um candidato presidencial populista e que não dê continuidade às reformas. “Se for eleito, com voto popular, um presidente que continue as medidas do governo atual, pode haver uma guinada para mais investimento”, diz Bernard Gonin, analista da Rio Gestão de Recursos.

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