Por Josué Leonel.
O mercado brasileiro vive um momento de otimismo crescente. Apesar dos riscos da Lava Jato aqui e do governo Trump nos EUA, a combinação de reformas com inflação na meta e juros em queda leva alguns especialistas a colocarem o Brasil em destaque entre os mercados emergentes. Ainda que o cenário positivo na economia se confirme, porém, restará uma dúvida crucial: o quanto desta expectativa representa novos ganhos para os ativos brasileiros e o quanto já foi precificado.
No mercado de juros futuros, o contrato de janeiro de 2021, um dos mais líquidos, já despencou 620 pontos desde o pico atingido em janeiro de 2016, quando a crise política do governo anterior estava no ápice. A taxa deslizou de 16,80% para os atuais 10,60%. A menor taxa que este contrato já atingiu foi de 9,1%, em dezembro de 2012. Mesmo que o contrato siga caindo e volte a essa mínima histórica, a queda restante será de 150 pontos, quatro vezes menor do que o movimento já registrado nos últimos doze meses.
Os ganhos acumulados são expressivos para todos os ativos brasileiros, da moeda aos títulos e ações. O Ibovespa, por exemplo, ganhou 126% em dólar nos últimos doze meses, o melhor desempenho do mercado acionário global. O real foi, no período, a moeda que mais se fortaleceu entre as 16 principais do mundo. A Nomura foi uma das casas que apontaram, nesta semana, os títulos do Brasil como favoritos entre emergentes.
O fato de o otimismo ter sido antecipado não significa necessariamente que novos ganhos não virão. Os títulos de dívida do Brasil ainda oferecem “toneladas de valor”, diz em entrevista Jan Dehn, chefe de pesquisa do Ashmore Group, que também aponta preferência pelos ativos brasileiros. Sobre o câmbio, Dehn não cita uma previsão de preço, mas lembra que o dólar já esteve no passado em R$ 1,60. Uma grande valorização do real, porém, não vai ocorrer da noite para o dia, pois poderia levar o BC a intervir no mercado, diz o profissional.
A entrada do capital estrangeiro pode ser determinante para definir o quanto os ativos brasileiros ainda terão espaço para se valorizar este ano após os ganhos fortes de 2016, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset. O rali até agora foi liderado pelas compras de investidores brasileiros, pois o estrangeiro quer ter maior clareza sobre as reformas, observa Portella. “Se o estrangeiro vier com força, o mercado pode ter mais uma pernada de valorização.”
A continuidade dos ganhos em 2017 enfrenta pelo menos dois riscos relevantes. Nos EUA, o mercado reduziu o estresse após o primeiro estrago causado pela surpresa da vitória de Trump, em novembro, e agora aguarda pelas primeiras medidas do presidente. No Brasil, a Lava Jato deve voltar ao radar com força assim que o STF definir como fica a delação da Odebrecht após a morte do ministro Teori Zavascki. Por ora, nenhum desses fatores foi suficiente para barrar os ativos brasileiros, embora haja unanimidade sobre os perigos que representam.
Dehn, da Ashmore, disse esta semana em nota que um cenário “goldilocks” está se criando no Brasil, com inflação na meta e crescimento se acelerando ao mesmo tempo. A expansão da economia, por sua vez, não deve gerar pressão inflacionária enquanto o desemprego continuar elevado, abrindo espaço para o BC seguir cortando os juros. “Com Selic a 13% e inflação caminhando para 4% em 2018, está claro que as taxas brasileiras têm um longo caminho para serem cortadas.”
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