O mercado fica atrás da curva nos juros. De novo

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

A reação do mercado de juros à Ata do Copom divulgada hoje é o mais novo lance do que tem sido uma tendência nos últimos meses: o mercado ser “corrigido” pelo BC em suas expectativas sobre o aperto monetário. E as correções têm sido sempre para cima.

Juros futuros subiram após o BC introduzir as palavras “perseverança e determinação” na ata da última reunião do Copom, que elevou Selic para 13,75%. O mercado aumentou a aposta em nova alta de 0,50 pp e em uma última elevação de 0,25 pp em setembro, elevando a projeção para a taxa a 14,5%.

Documentos do BC e discursos recentes dos seus diretores também causaram reação semelhante, de alta dos juros futuros na maioria das vezes.

O fato de o BC precisar reiterar sua mensagem mostra que há uma “descrença generalizada” do mercado na determinação do banco para trazer a inflação para a meta, diz o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.

Na ata anterior, divulgada em 7 de maio, o BC já havia surpreendido o mercado ao reforçar sua promessa de vigilância e dizer que IPCA deveria convergir para a meta no final de 2016, e não ao longo de 2016. Em abril, o presidente do BC, Alexandre Tombini, e o diretor Luiz Awazu provocaram a alta dos juros futuros ao dizer que o BC “foi, está e continuará” vigilante.

O BC tem alterado sua mensagem constantemente devido à “má reputação” de ter permitido que a inflação ficasse, em média, acima de 6% nos últimos anos, ante uma meta de 4,5%, diz Schwartsman. “O passado pesa”.

Para o ex-diretor, a Selic deveria ficar entre 15% e 16% se o BC quisesse a inflação no centro da meta. Por enquanto, o mercado de juros projeta uma alta menor, para até 14,50%.

Schwartsman também considera que, apesar das dificuldades em cumprir a meta de 2016, não é aconselhável o BC ampliar demasiadamente o prazo de convergência da inflação. Quanto mais se prolonga o prazo para atingir a meta, mais os agentes econômicos olham para a inflação passada, que é mais alta, para definir seus preços. Ou seja, em vez de trazer alívio, o adiamento do ajuste geraria mais pressões à frente.

Uma pessoa da equipe econômica com conhecimento da política monetária disse hoje, após a ata, que o BC vai manter seu objetivo de trazer a inflação para o centro da meta até dezembro de 2016 e não cogita adiar esse prazo.

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