Notícia exclusiva por Josué Leonel.
Imagine um País que tem uma meta e, se está difícil cumprir, muda a meta ou aumenta o prazo para atingir a meta. E imagine que estas mudanças ocorram nas duas principais vertentes da política econômica, praticamente ao mesmo tempo. Dá para confiar que a nova meta será cumprida?
Olhando isoladamente para 2015, dá para entender a decisão do Copom ontem de retirar a menção à meta de inflação em 2016 e trocar por uma expressão mais vaga. Agora, o BC vai perseguir a meta de 4,5% em um “horizonte relevante”. O próprio mercado, que projeta este horizonte em cerca de 2 anos, já esperava uma mudança.
Afinal, a expectativa para o IPCA no ano que vem está convergindo para o teto, e não o centro da meta. Considerando-se que a política monetária normalmente afeta a inflação em cerca de um ano, atingir a meta em 2016 seria muito difícil. Ou exigira uma dose cavalar de alta de juros que o BC não parece disposto a executar diante de uma recessão prevista em cerca de 3% para este ano.
Seria mais fácil para o mercado compreender o BC se 2015 e 2016 fossem pontos fora da curva em termos de cumprimento da meta, o que não são. Este ano, com o IPCA rumando a 10%, praticamente foi ignorado pelo BC, que desde o começou jogou a toalha sob o argumento de que o aumento das tarifas tornaria inglória a tarefa de cumprir a meta. Nos anos anteriores, contudo, o cenário foi mais favorável à inflação. As tarifas e combustíveis estavam sob controle, o câmbio menos volátil, e, mesmo assim, o IPCA superou a meta em todos os anos desde 2010.
“Este banco central tem trabalhado com baixa credibilidade há muito tempo”, diz Paulo Vieira da Cunha, economista chefe da Ice Canyon em Nova York e ex-diretor do BC. Para ele, o comunicado divulgado nesta quarta-feira mostra o BC reconhecendo a realidade de que não terá como atingir a meta em 2016.
“O jogo está com a política fiscal”, diz Vieira da Cunha. Para ele, o ponto positivo nas revisões da meta é que o governo está mostrando maior atenção ao “ritual institucional”. A revisão da meta é uma exigência da lei nos casos em que o cumprimento se torna inviável. “O TCU está de olho”. A maior transparência, contudo, não alivia o fato de que o resultado é “péssimo”, diz o economista.
Quando assumiu a Fazenda, Joaquim Levy anunciou meta de superávit primário de 1,1% do PIB para 2015. Alguns analistas consideraram o número baixo, pois a estabilização da dívida exigiria no mínimo 2%. Ainda assim, a meta foi revista para 0,15%. Agora, as especulações apontam para nova revisão, assumindo um déficit de quase 1% do PIB, perto de R$ 50 bilhões.
A meta fiscal para 2016 também corre risco. As pedaladas que ameaçam o mandato de Dilma Rousseff, com contas de 2014 pesando em 2015, podem ser parceladas, deixando restos para 2016. O jornal Valor disse que a presidente estaria defendendo uma certa “flexibilidade” para a meta do próximo ano. Seria mantida a meta original de 2016, de superávit de 0,7%, mas o governo ficaria desobrigado de rever a meta em caso de choques. Em outras palavras, o País teria uma meta, mas tudo bem se não cumprir a meta.
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