O paradoxo das ações europeias, que seguem atrás das americanas

Por Ksenia Galouchko com a colaboração de Blaise Robinson e Aleksandra Gjorgievska.

JPMorgan Chase e Natixis estão entre os bancos que preferem ações de empresas da Europa às dos EUA, devido ao nível de preços das ações e à disparada dos lucros, entre outros fatores. Então por que os papéis europeus continuam em desvantagem?

Enquanto o S&P 500 avança consistentemente desde 2009 (atingindo recorde em janeiro e acumulando ganhos de aproximadamente 300 por cento), o Stoxx 600 Europe registrou alta de apenas 130 por cento no mesmo período e segue com desempenho inferior. O fenômeno surpreende analistas e, no entendimento do Natixis, chega a ser um “paradoxo”.

Estes são alguns dos fundamentos favoráveis às ações europeias:

– As ações europeias estão com o preço mais barato desde 2009 em relação às ações americanas.
– As margens de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização das companhias europeias estão aumentando e se encontram no nível mais próximo das companhias americanas desde 2012.
– Excluindo o impacto da reforma tributária nos EUA, o crescimento estimado para os lucros das empresas americanas é menor do que o previsto para as companhias europeias, segundo o Natixis.
– As ações de tecnologia dos EUA estão “explicitamente caras”, na opinião do JPMorgan. Excluindo esse setor, as ações de empresas da Zona do Euro vêm superando as do mercado americano desde o começo do ano.
– As ações do setor financeiro, que têm peso maior nas bolsas da Zona do Euro, devem entregar desempenho melhor do que o mercado como um todo neste ano, na visão do JPMorgan.

No entanto, outros fatores seguram as ações europeias, de acordo com analistas:

Taxa de câmbio

As empresas europeias geram praticamente metade das vendas no exterior, por isso a direção do euro é tão importante. A valorização de 15 por cento da moeda única em relação ao dólar no último ano limitou o avanço do Stoxx Europe 600.

“O crescimento mais forte na zona do euro tem custos: pressões para o Banco Central Europeu mudar a política monetária e a apreciação do euro”, explicou Roland Kaloyan, estrategista-chefe de ações europeias do Société Générale. “E isso é um fator muito importante para as ações da Zona do Euro, porque empresas de peso têm enorme exposição às exportações.”

No entanto, o Commerzbank entende que as ações europeias podem superar as americanas se o BCE surpreender o mercado com uma postura “muito mais branda” do que se espera, o que ajudaria a desvalorizar o euro e impulsionar os lucros corporativos.

Crescimento econômico

Um dos motivos para a desvantagem das bolsas europeias, na visão do SocGen, é a extensão da recuperação econômica: visível nos EUA desde pelo menos 2010, mas consistente na Zona do Euro apenas desde 2013.

O BCE dificilmente iniciará o processo de elevação dos juros antes de 2019, mas a reversão das medidas de estímulo quantitativo, programada para este ano, pode convencer investidores de que é preciso esperar e ter clareza antes de comprar ações do continente, avalia Guillermo Hernandez Sampere, responsável pela mesa de negociação de ativos financeiros da MPPM EK, na Alemanha.

Lucros corporativos

Outra razão para o desempenho superior das ações americanas, de acordo com o JPMorgan, é a reforma tributária, que elevou as projeções de lucro para empresas dos EUA e convenceu analistas a revisar recomendações de investimento.

Os índices das bolsas nos EUA são embalados pela disparada das ações de tecnologia, que representam aproximadamente 25 por cento do mercado acionário nos EUA e apenas 4,5 por cento na Europa, segundo o Commerzbank.

Brexit

A saída do Reino Unido da União Europeia vai “segurar as ações do Reino Unido porque há tanta incerteza e também porque não há mais suporte via libra esterlina”, de acordo com o Commerzbank.

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