O pé atrás do mercado com o impeachment

Notícia exclusiva por Josué Leonel, com a colaboração de Roberto Cintra e Marisa Castellani.

O mercado ensaia um freio no entusiasmo registrado no primeiro trimestre, quando o real foi a moeda de melhor desempenho entre as 16 principais divisas do mundo, o Ibovespa liderou ganhos entre as bolsas globais e os títulos brasileiros de dívida subiram. O pé atrás se justifica pelas dúvidas sobre o sucesso do movimento pró-impeachment e a viabilidade do governo após a decisão do Congresso.
 

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As forças políticas se mostram fragmentadas, o que dificulta uma aposta clara no impeachment e também na capacidade de governabilidade, seja se Dilma mantiver o poder, seja no caso de Temer assumir, diz Ricardo Sennes, diretor da Prospectiva Consultoria. “A situação lembra a Síria. Há vários grupos políticos, nenhum é suficientemente forte para destruir o outro e nem tão fraco para ser destruído.”

O impeachment ainda não é o cenário mais provável, segundo Sennes. A vitória da presidente, contudo, tende a ser “apertadíssima”, diz o consultor. Ela correrá o risco de ainda sofrer um segundo processo de impeachment, como o já apresentado pela OAB, ou de sobreviver, mas com baixo apoio no Congresso. Temer, caso se torne presidente, também não deve ter vida fácil. O STF está prestes a decidir se a Câmara é obrigada a avaliar um processo de impeachment contra ele.

“Até o meio da semana passada, o mercado via um impeachment quase sem obstáculos. Mais recentemente, algumas indefinições fizeram o investidor ficar com um pé atrás”, diz Matheus Gallina, operador de renda fixa da Quantitas Gestão de Recursos. Ele cita dois pontos do cenário que não evoluíram como gostariam os defensores do impeachment: 1) o fato de a maioria dos ministros do PMDB ter permanecido no governo mesmo após o “desembarque” do partido; 2) alguns partidos da base aliada decidiram adiar sua decisão sobre permanência ou saída do governo.

A consultoria Rosenberg Associados também vê um cenário de muitos riscos, ainda que considere o impeachment de Dilma como a hipótese mais provável, com 70% a 80% de chances. No melhor cenário, Temer assumiria e escalaria um “ministério de notáveis”, mas sem solucionar todos os problemas. No pior, Lula consegue barrar o impeachment de Dilma, mas restaria à presidente um ministério fisiológico e um Congresso “bastante arredio”, minando qualquer ponte para governabilidade. Isso levaria a uma nova rodada de deterioração na economia, com a possível reedição da “nova matriz”, política baseada em estímulos ao consumo, represamento de preços administrados e maior intervencionismo, adotada no primeiro mandato de Dilma.

Para o mercado manter o bom desempenho visto nas semanas anteriores, será necessário que surjam “fatos novos” que fortaleçam a aposta no impeachment, diz Gallina, da Quantitas. “Caso contrário, o mercado pode ter uma correção.”

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