O poder da precificação na era das tarifas

Este artigo foi escrito por Steve Hou, PhD, pesquisador de dados quantitativos da Bloomberg.

A era das tarifas voltou, e os números são grandes. Até 10 de abril de 2025, as tarifas impostas pelos EUA sobre importações da China aumentaram para 145%, depois de terem subido sucessivamente de 20% para 54% e, depois, para 104%. Da noite para o dia, a taxa tarifária efetiva média dos EUA passou de 2,3% para 26,5%, a mais alta em mais de um século. Nas palavras de Paul Krugman, especialista em comércio internacional e vencedor do Prêmio Nobel de economia, as taxas comerciais dos EUA recentemente anunciadas pelo presidente Trump “fazem as tarifas Smoot-Hawley parecerem um erro de arredondamento”.

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Independentemente dos resultados das negociações comerciais altamente voláteis e instáveis, a previsão é de que o mundo venha a passar por transformações profundas num futuro próximo, e estamos caminhando para uma economia global muito mais protecionista. As barreiras comerciais internacionais tendem a se expandir. No cenário econômico atual, empresas com forte poder de precificação têm demonstrado resiliência ao gerenciarem de forma eficaz as variações nos custos de insumos e manter a eficiência das margens. Os índices que acompanham esse tipo de empresa oferecem bons insights sobre como determinados segmentos do mercado estão posicionados para enfrentar as pressões inflacionárias.

Em pesquisas anteriores, mostramos que empresas com forte poder de precificação podem ser identificadas de forma sistemática por meio da seleção daquelas que apresentam margens brutas estáveis no longo prazo. Em um whitepaper publicado em 2023, demonstramos que o poder de precificação, como fator, superou o desempenho do mercado em geral, devido a exposições favoráveis a fatores de estilo. Utilizando a função TLTS <GO> no Terminal Bloomberg, observamos que o índice BPPUST (em relação ao benchmark B500EQT Index) apresenta exposições positivas aos fatores qualidade e crescimento e exposição negativa em relação ao fator valor, compensadas por menor volatilidade (beta) e menor volatilidade idiossincrática.

Resiliência tarifária

O Bloomberg Pricing Power Index é um bom exemplo de como ações de empresas com poder de precificação podem ser mais resilientes em um ambiente econômico atingido por tarifas elevadas, já que as empresas precisam repassar o custo das tarifas ou correr o risco de erosão das margens. Tanto durante a guerra comercial no primeiro mandato do presidente Trump, em 2018, quanto na mais recente e abrangente de 2025, as ações de empresas com poder de precificação apresentaram uma resiliência muito maior do que as do mercado acionário em geral (o índice BPPUST é composto por 50 ações igualmente ponderadas).

Sensibilidade à inflação

Outra forma de avaliar o desempenho das ações com poder de precificação durante guerras comerciais e períodos de maior incerteza macroeconômica é observar sua performance em relação ao benchmark mais amplo durante períodos de inflação em alta. A onda de inflação pós-COVID representa o maior choque macroeconômico enfrentado pela economia dos EUA nos últimos 40 anos.

O forte desempenho do índice Bloomberg Pricing Power em episódios inflacionários oferece uma previsão de como as empresas com alto poder de precificação tendem a reagir diante da imposição de tarifas. A elevação dos custos dos insumos e o aumento da incerteza são ambos consequências prováveis dos repasses tarifários. As Figuras 5 e 6 mostram que as empresas com alto poder de precificação superaram o desempenho do mercado, tanto no período pós-COVID quanto nos anos que antecederam a crise financeira de 2008. Empresas com esse perfil conseguem repassar os aumentos de custos mais facilmente aos clientes e manter suas margens, muitas vezes graças a uma gestão superior da cadeia de suprimentos ou a um oligopólio de mercado.

Os investidores também obter insights valiosos a partir das exposições setoriais de empresas com forte poder de precificação, que tendem a se concentrar nos setores de produtos de consumo básico, indústria, saúde e de bens de consumo discricionário. Esses setores, em geral, tendem a se voltar mais para o mercado doméstico, tanto em termos de receita quanto de cadeia de suprimentos. Além disso, o fato de seus produtos (como alimentos, medicamentos, ou peças industriais e de consumo de difícil substituição) apresentarem, em geral, demandas mais inelásticas permite que essas empresas responsáveis por sua produção e distribuição repassem com mais facilidade os aumentos nos custos de seus insumos ao consumidor, inclusive o custo das tarifas.

Em síntese, o retorno das tarifas altas vem criando um cenário macroeconômico volátil e incerto. Acreditamos que as empresas com forte poder de precificação já demonstraram sua resiliência durante períodos de guerras comerciais e alta da inflação. Embora retornos passados não garantam desempenho futuro, ao se concentrarem em empresas com margens brutas estáveis, os investidores podem se preparar para enfrentar os desafios de uma economia global mais protecionista e identificar oportunidades de crescimento e estabilidade.

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