Por Vinícius Andrade e Josue Leonel.
O mercado espera que a Ata do Copom, nesta terça-feira, traga mais pistas sobre o plano de pouso do BC após comunicado da última reunião que cortou a Selic para 7,5%, a 0,25 ponto do piso histórico, retirar a expressão “encerramento gradual do ciclo”. O mercado reduziu as apostas em uma taxa de juros abaixo de 7% no final do ciclo, mas parte dos analistas continua vendo as portas abertas a um alívio monetário maior.
A aprovação da reforma da Previdência tem peso no cenário, mas, pelo menos no curto prazo, o mercado não a vê como decisiva para o patamar de juros, que depende mais da extensão da queda da inflação e expectativas inflacionárias, além da magnitude da recuperação da economia.
A reforma é um ”fator positivo”, mas o ciclo de juros está mais ligado à inflação corrente e às informações sobre a economia nos próximos três meses, diz Luiz Fernando Figueiredo, presidente da Mauá Capital e ex-diretor de política monetária do BC. “Estamos perto de pousar o avião, mas como vamos pousar depende se estará com muito vento, se vai estar chovendo”.
Para o mercado, o comunicado do Copom da última quarta-feira não deixou dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto percentual em dezembro. Por isso, o debate mais incisivo entre os analistas é se haverá ou não um corte adicional em um Copom daqui a cerca de 100 dias, em 7 de fevereiro. As projeções para inflação são o fator que deve definir se BC continua com ciclo de cortes no começo de 2018, diz Sérgio Goldenstein, sócio da Flag Asset, que vê a taxa atingindo 6,75% ao final do ciclo.
Para David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, a sinalização do BC no comunicado conferiu à autoridade monetária grau de liberdade para, dependendo dos dados, fazer o que for possível no momento, a partir de dezembro. O que se pode discutir, diz ele, é se a ata está ou não defasada, dada a mudança vista nos últimos dias no cenário externo.
Beker trabalha com a expectativa de dois cortes de 0,25 ponto cada nas primeiras reuniões do Copom de 2018. Há algumas pressões específicas, como a alta dos preços de energia elétrica e de alimentos, mas o cenário para a inflação continua “bem benigno”, diz o economista.
Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, lembra que as próprias projeções de inflação do BC, citadas no comunicado do Copom, mostrariam que uma Selic de 6,75% seria coerente com inflação abaixo da meta no ano que vem e na meta em 2019.
A previsão de crescimento maior no próximo ano também não deve ser barreira a juros menores, segundo Gustavo Arruda, do BNP Paribas. “Não vemos BC fechando a porta na reunião de dezembro e, na nossa cabeça, combinação de crescimento de 3% com inflação a 3,5% no ano que vem permitirá que BC teste nova marca de juros em 6,5%”, disse o economista.
Embora a inflação tenha peso maior do que as reformas para os juros no curto prazo, o destino da Previdência, assim como o cenário para a eleição de 2018, não é ignorado. Em caso de não aprovação da reforma e com cenário para o câmbio mais incerto diante de risco eleitoral, Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING em Nova York, espera que o BC opte por pausa em fevereiro. Até lá, as decisões ficam bem dependentes dos dados, diz Rangel.
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