Notícia exclusiva por Josué Leonel.
O mercado se mostra cauteloso na redução das estimativas de inflação mesmo após o Banco Central ter assumido um discurso mais duro. É um sinal de que a Selic deve subir ainda mais, apesar de já ter sido elevada em 6 pontos percentuais desde abril de 2013.
Na última pesquisa Focus com economistas do mercado, a estimativa para a inflação de 2016 ficou praticamente inalterada, em 5,50%, ainda relativamente distante do centro da meta, de 4,5%. Na pesquisa top 5, com os cinco economistas que mais acertam, a previsão para a Selic no Copom de junho subiu de uma alta de 0,25 pp para 0,50 pp.
O mercado ainda não foi convencido de que o BC realmente fará o que for necessário para trazer a inflação de volta à meta, diz Alexandre Schwartsman, que foi diretor do BC na gestão anterior e tem sido um dos economistas mais críticos à condução da política monetária nos últimos anos.
Para o ex-diretor, o fato de o BC não ter conseguido assegurar a convergência do IPCA para o centro da meta em nenhum dos últimos 6 anos e as mudanças de mensagem nos últimos meses, ora destacando a parcimônia, ora a vigilância, pesam contra a tentativa atual de melhorar as expectativas.
“Eu não descarto que o BC tenha mudado para valer seu discurso. Mas a reputação deste BC em relação ao cumprimento da meta não é boa”.
A Selic teria de subir para mais de 14% para levar o IPCA a 4,5% no final de 2016, diz Schwartsman. Contudo, o mercado acha que o BC pode interromper a alta e posteriormente retomar os cortes antes do necessário diante do cenário de recessão. Schwartsman espera apenas uma alta de 0,25 pp em junho. “O mercado acha que em algum momento o BC abre o bico”.
E, se os economistas estão reticentes, os operadores parecem ainda mais cautelosos. Os títulos do Tesouro negociados no mercado projetam uma inflação implícita ainda na casa de 7% em 2 anos, mesmo com os contratos de DI estimando Selic a 14% no final do ciclo de alta.
Na última ata do Copom, o BC reforçou a mensagem de que o IPCA terá de convergir para o centro da meta no final de 2016. Os números mostram que o mercado ainda paga para ver.
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