O que o Fed dirá aos mercados nesta semana

Por Mohamed A. El-Erian.

As autoridades do Federal Reserve pintarão um quadro econômico contraditótio no final da reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que começará nesta terça-feira.

Eles darão boas-vindas a um contexto internacional menos alarmante: os recentes distúrbios nos mercados financeiros fora dos EUA diminuíram, em particular no que diz respeito às alterações observadas nos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, contudo, as autoridades do Fed apontarão para uma economia um pouco menos robusta nos EUA, na qual a sólida criação de empregos e a inflação ligeiramente mais elevada são compensadas pela fragilidade em outras partes.

O banco central observará o abrandamento das condições financeiras gerais provocado pela ampla recuperação dos mercados globais. E, embora algumas autoridades temam, em privado, a ameaça de uma tomada de risco excessiva e suas consequências para a estabilidade financeira futura, é improvável que essas preocupações se reflitam no comunicado do Fomc.

O Fed reconhecerá que alguns outros bancos centrais influentes continuam focados em injeções de liquidez adicionais, conforme indicado pelas medidas de política monetária chinesas da semana passada e pelos sinais emitidos pelo Banco Central Europeu. Mas, diferentemente de ocasiões anteriores, a instituição americana evitará expressar preocupação a respeito da perspectiva de valorização do dólar.

Com tudo isso, o Fed vai se abster de adotar qualquer nova medida de política monetária. O banco central não elevará as taxas e certamente não embarcará em um novo programa de aquisições de títulos em grande escala.

Contudo, em resposta aos mercados, que agora estão mais convencidos de que o primeiro aumento em 10 anos será adiado para o ano que vem, o Fed fará questão de sinalizar que sua reunião de dezembro ainda está “viva”, mantendo flexibilidade máxima para a tomada de decisões. Isso será deixado claro reiterando a mensagem de que as decisões do banco central continuam dependentes dos dados.

O Fed provavelmente não será tão incisivo quanto eu acho que deveria ser, mas suas autoridades farão um esforço também para mudar a atenção do mercado, obstinadamente fixada no momento do primeiro aumento da taxa. Em vez disso, os banqueiros centrais estimularão os mercados a prestarem uma atenção muito maior ao escopo e à duração de um ciclo de aumento da taxa de juros, que provavelmente será muito gradual, nem um pouco automático e terminará com uma taxa abaixo das médias históricas.

Finalmente, considerando os relatos de um Fomc dividido — refletidos não apenas nas divisões incomuns entre os presidentes regionais e os governadores do conselho, mas também em algumas declarações públicas recentes que apontam para diferenças entre os próprios governadores –, as autoridades do Fed farão seu melhor para retratar uma frente mais unida. No processo, eles trabalharão duro para minimizar as diferenças, particularmente no tocante à dissidência na votação.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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