O que são os ativos digitais?

Este artigo foi escrito por Jigna Gibb, chefe de produtos de índices de commodities e ativos digitais da Bloomberg.

À medida que os ativos digitais e as criptomoedas ganham popularidade, mais investidores estão entrando no mercado e equilibrando potencial de longo prazo com volatilidade de curto prazo.

De modo geral, enquanto os fluxos de criptoativos apresentam crescimento contínuo e estão atualmente na casa dos US$ 145 bilhões, saídas recentes na casa de US$ 500 milhões em um único dia demonstram claramente a natureza inconstante de algumas dessas alocações. Como acontece quando aprendemos um novo idioma ou tecnologia, há muito a assimilar a respeito desse universo de ativos digitais em constante expansão. Neste artigo, nosso objetivo é desmistificar os acrônimos, apresentar os conceitos básicos, examinar o uso de índices para ativos digitais e avaliar os fluxos recentes para essa classe emergente de ativos.

Ativos digitais, sem mistério

A expressão ativos digitais refere-se a uma variedade de itens cujo valor pode ser criado e armazenado digitalmente. Entre eles, estão as criptomoedas e os ativos tokenizados. Há muitas razões para o crescente interesse em ativos digitais e em como dimensionar alocações em um portfólio multiativos. Ambos os tópicos são discutidos no artigo “O poder das alocações em cripto“. Os argumentos pró-cripto mais frequentes incluem diversificação, alternativas ao dólar, reserva de valor e estratégia de momentum.

Os criptoativos são moedas digitais descentralizadas, o que significa que as pessoas podem efetuar pagamentos no mundo inteiro sem o envolvimento de intermediários confiáveis, como bancos ou governos. As transações são registradas na blockchain, que é um sistema de software ou registro contábil não regulamentado e de código aberto. A segurança das moedas é criptografada, em vez de respaldada por um governo ou agência.

Outra maneira de compreender cada ativo digital é que eles operam como uma pequena empresa, com diferentes perfis e históricos, como resumido no Quadro 1. Uma característica distintiva dos criptos é o mecanismo de consenso, ou seja, o processo de validação das transações na rede cripto. Criptomoedas pioneiras como o Bitcoin adotam o “proof of work” (PoW), enquanto novos tokens tendem a utilizar o “proof of stake” (PoS). O que distingue esses modelos é a quantidade de energia exigida para a mineração do token, a velocidade da certificação e o potencial de escalabilidade.

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Aqui vão alguns termos comuns: os forks ocorrem quando um protocolo de blockchain se bifurca em dois caminhos. Existem os chamados hard forks, que se bifurcam na blockchain, separando os caminhos antigos dos novos, e os soft forks, que funcionam como um upgrade do sistema, pois garantem a compatibilidade entre os caminhos novos e os antigos. O staking é um método de potencializar os retornos por meio do recebimento de recompensas pela colaboração na segurança da blockchain. As stablecoins, como o Tether, são criptomoedas cujo valor está atrelado a moedas fiduciárias ou ouro.

Novas políticas favorecem os criptos

Com a abertura do ambiente regulatório global liderada pelos EUA, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) aprovou os ETFs de Bitcoin e Ethereum em 2024. Com isso, os fluxos de ativos em criptomoedas aumentaram velozmente, como mostra o Quadro 2. Esse movimento ganhou ainda mais impulso com uma administração norte-americana pró-cripto. No início de março deste ano, o governo dos EUA anunciou planos de manter uma reserva de ativos digitais, incluindo Bitcoin, Ethereum, Ripple, Solana e Cardano, o que fez os preços dispararem ainda mais. As mudanças regulatórias vêm acontecendo ao redor do mundo, com a SEC lançando sua força-tarefa de cripto, o Reino Unido iniciando o Digital Pound Lab para desenvolver sua moeda digital oficial (CBDC) e a implementação do marco regulatório MiCA para ativos digitais na Europa.

Essas regulamentações estão validando de forma crescente o uso de ativos digitais. Os investidores também podem manter seus criptoativos diretamente em uma carteira digital. No entanto, os índices oferecem flexibilidade e permitem acesso por meio de formatos de investimento estabelecidos, como os ETFs. Atualmente, a Bloomberg oferece índices de componente único para Bitcoin {BITCOIN Index}, Ethereum {ETHEREUM Index} e Solana {BSOLANA Index}.

Como os índices e as cestas de ativos digitais podem transformar a exposição dos criptoativos?

Para muitos investidores, o maior obstáculo para alocar as criptomoedas é a volatilidade dessa classe de ativos. A volatilidade de longo prazo do Bitcoin, por exemplo, foi de 100%. Recentemente, a volatilidade de 1 ano vem caindo gradualmente para aproximadamente metade disso, à medida que a adoção do ativo aumenta. Há diversas maneiras de reduzir a volatilidade, como utilizar um esquema de volatilidade-alvo, combinar o investimento em criptos com outros em ativos estáveis, como o ouro e o dólar, ou montar uma cesta de criptoativos. Assim, para muitos investidores, as cestas representam uma boa alternativa para garantir seu acesso aos ativos digitais.

O Bitcoin é frequente chamado de ouro digital, e por isso é natural pensar em combinar Bitcoin e ouro na composição da cesta. O índice Bloomberg Bitcoin and Gold Equal-Weighted {BBIG Index} é uma cesta igualmente ponderada. O índice Bloomberg USD, Bitcoin e Gold Equal-Weighted {BBUG Index} combina os índices Bitcoin, ouro e dólar igualmente. Com exposição ao potencial de valorização do Bitcoin, à estabilidade histórica do ouro e às características defensivas do dólar dos EUA, os índices Bitcoin and Gold podem alterar, por si só, o perfil de risco/retorno desses ativos.

A Bloomberg também oferece as cestas de criptoativos equal-weight {XBTXETEW Index} e market cap-weighted {XBTXETMC Index} para Bitcoin and Ethereum. Em geral, Bitcoin e Ethereum se complementam bem, como por exemplo o ouro e a prata, no setor de metais preciosos. Ambas as criptomoedas são essencialmente projetadas para atingir objetivos diferentes: o Bitcoin é visto como uma reserva de valor, ao passo que o Ethereum tem usos mais diversificados e maior apelo para atividades de trading. De modo geral, Bitcoin e Ethereum respondem por mais de 60 a 70% da capitalização do mercado de criptos e são as blockchains mais consolidadas e amplamente adotadas. A cesta igualmente ponderada apresenta uma exposição equilibrada de 50:50 para ambos os componentes, enquanto a ponderada por capitalização de mercado tem uma inclinação de 90:10 para a relação Bitcoin:Ethereum, com rebalanceamento mensal das ponderações. Portanto, o índice ponderado por capitalização de mercado seria muito mais voltado para o perfil de risco e retorno do Bitcoin, em vez do Ethereum.

Em 2018, a Bloomberg fez parceria com a Galaxy para oferecer índices de cesta ampla. O índice Bloomberg Galaxy Crypto {BGCI Index} é baseado nas criptomoedas mais importantes, ponderadas por capitalização de mercado e rebalanceadas mensalmente. Em maio de 2025, a cesta era composta por 18,0% em renda fixa, 77,7% em ações, 1,0% em ativos digitais, 2,7% em commodities e o restante em outras alternativas. A cesta de ativos digitais incluía Bitcoin, Ethereum, Solana, Avalanche, Polkadot, Chainlink, Litecoin, Stellar e Sui Network, com os três primeiros representando 88% do total. Já o índice Bloomberg Galaxy DeFi {DEFI Index} é um benchmark de serviços financeiros descentralizados em blockchain, ponderado por capitalização de mercado modificada. Visa a ser diversificado e representativo do mercado DeFi mais abrangente. Em 25 de maio, os componentes desse índice incluíam Uniswap, Aave, lnjectivev Protocol, Maker e Curve DAO Token.

De HODLIing para ETF holding

A prática de HODLing pela comunidade cripto sinaliza uma forte convicção em seu valor a longo prazo, apesar das oscilações do mercado. Resta saber se os investidores de ETF adotam a mesma abordagem.

Considerando os ativos ETF, como mostra o Quadro 3, não é surpresa que ativos tradicionais como ações e renda fixa tenham participação majoritária de aproximadamente 95% nas alocações, enquanto os alternativos, incluindo ativos digitais, commodities e setor imobiliário, componham o restante. Como parte do segmento Alternativos, os ETFs de Ativos Digitais cresceram rapidamente, mas ainda representam apenas 1% do total de ativos sob gestão (AuMs).  Portanto, ainda há potencial de fluxo para essa classe de ativos em ascensão. A história mostra que, quando uma nova tecnologia é lançada, ela passa por um período de gestação que pode ser volátil. Com maior adesão institucional e participação dos governos, há potencial para o aumento dos fluxos de investimento nos ativos digitais e, com isso, para uma maior estabilidade dos investimentos nesse tipo de alocação.

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