Por Juan Pablo Spinetto e Tariq Panja.
Debaixo das ruas do Rio de Janeiro, a apenas alguns quarteirões de distância da famosa praia de Ipanema, equipes de construção estão trabalhando dia e noite para terminar uma nova extensão do metrô que é essencial para o sucesso dos Jogos Olímpicos do ano que vem.
O prazo para concluir a ambiciosa extensão de 16 quilômetros é o dia 1º de julho e como os Jogos estão marcados para começar no dia 5 de agosto, não existe muita margem de erro. No entanto, os obstáculos são intimidadores. O maior são os desafios técnicos de escavar túneis dentro das montanhas. Além disso, o Brasil tem um antecedente pouco inspirador de tropeços e atrasos na preparação dos estádios para a Copa do ano passado.
O enorme escândalo de corrupção do país que envolveu, entre outros, a companhia responsável pelo projeto do metrô, não ajudou. Juntando tudo, a corrida para terminar o metrô antes das Olimpíadas se torna uma espécie de caso-teste de alta pressão da capacidade que um atribulado Brasil tem de agir como player global no palco do mundo.
“É um prazo muito apertado, um desafio enorme”, disse Carlos Osório, secretário de Transportes do estado do Rio de Janeiro, o homem que comanda o projeto de US$ 2,3 bilhões e um dos cabeças da surpreendente proposta vitoriosa do Rio em 2009 para sediar os Jogos Olímpicos. “Mas nós temos certeza de que vai ficar pronto a tempo”. Só por precaução, no entanto, Osório tem em sua mesa uma Nossa Senhora Aparecida, uma imagem brasileira e reverenciada da Virgem Maria.
A linha do metrô, conhecida como Linha 4, visa conectar os centros turísticos da zona sul do Rio com a Barra, o bairro da zona oeste onde fica o Parque Olímpico. Além de atender às Olimpíadas, as metas de longo prazo do projeto são reduzir o tráfego de automóveis e conectar os bairros periféricos ao centro do Rio. Apenas cinco semanas depois da data programada para o término da obra, a linha será fundamental para transportar facilmente muitos milhares de visitantes aos eventos olímpicos. Se não ficar pronta, o Rio irá enfrentar engarrafamentos monstruosos em suas sinuosas avenidas costeiras e montanhosas e a possibilidade de que seus novíssimos estádios fiquem vazios.
Sinais de alerta
Há alguns sinais de que nem tudo está nos trilhos. Em julho, um tribunal que supervisiona os gastos do governo estadual disse que o metrô corria um “alto risco” de não ficar pronto para os Jogos. A advertência do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro se baseou em uma investigação feita até dezembro de 2014. Vários meses antes, duas grandes crateras apareceram no meio de um bairro nobre quando trabalhadores abriam túneis sob o solo. Os resultados da segunda auditoria serão divulgados no fim do ano.
Sidney Levy, diretor-geral do Comitê Rio 2016, disse que a conclusão da obra do metrô é “crítica” para o sucesso dos Jogos. Um comunicado emitido pelo Comitê informou que recebeu “indicações” de que “todas as metas” relativas às frases críticas da obra foram atingidas.
Eterno provisório
O Rio de Janeiro, uma cidade abençoada com vistas para o mar de tirar o fôlego e uma topologia espetacular, inaugurou sua primeira linha de metrô em 1979, anos depois de outras cidades latino-americanas, como Buenos Aires e a Cidade do México. A Linha 4 foi encomendada originalmente em 1998, mas a obra só começou em 2010 depois que o Rio recebeu financiamento federal para o projeto, por ter sido escolhida como sede dos Jogos Olímpicos. Para terminar o metrô antes dos Jogos, os engenheiros reduziram o projeto e adotaram a planta original, adiando assim a abertura de uma das estações do percurso para o início de 2017 e postergando uma conexão com outra linha até depois das Olimpíadas.
“Optamos por fazer o que é mais lógico para o tempo que temos”, disse Osório. “Os Jogos Olímpicos foram a maior desculpa que o Rio de Janeiro obteve em seus 450 anos. Este é um projeto catalisador para os esportes e para os recursos”.
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