Por Cristiane Lucchesi, Pablo Gonzalez e Felipe Marques.
A Odebrecht está ficando sem garantias para oferecer aos credores da sua construtora, envolvida no escândalo da Lava Jato, e os detentores de títulos da dívida externa terão que enfrentar um corte “agressivo” de principal na reestruturação de US$ 3,1 bilhões, segundo pessoas com conhecimento da situação.
A controlada Odebrecht Engenharia e Construção disse, na semana passada, que irá reestruturar a dívida depois de não honrar um pagamento de cupom de um título da dívida externa. Mas a escassez de ativos que podem ser usados como colateral em novos títulos sinaliza que a OEC terá que encontrar alternativas “criativas” para oferecer aos credores, disseram as pessoas. As opções em discussão incluem o uso do fluxo de caixa dos quatro projetos atuais que ainda têm alguma geração e de projetos futuros, bem como uma troca de dívida por ações, disseram as pessoas.
Embora a OEC esteja buscando uma reestruturação totalmente negociada, não houve reuniões formais e não está claro se os detentores de títulos da dívida aceitariam essas propostas, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque o assunto é privado. O grupo de credores, que está trabalhando com Rothschild & Co., representa cerca de metade da dívida de US$ 3,1 bilhões da OEC, disseram as pessoas.
Representantes de quatro fundos que possuem títulos da dívida externa da OEC disseram à Bloomberg que aceitariam descontos de 50 porcento a 75 porcento no valor de face. Títulos da construtora com vencimento em 2025, no total de US$ 518,6 milhões, têm sido negociados abaixo de 20 centavos de dólar desde o final de outubro e valem atualmente cerca de 16 centavos, de acordo com dados da Trace Bond.
Porta-vozes da Odebrecht e do Rothschild não quiseram comentar. A OEC disse em comunicado no mês passado que está em “discussões consensuais” com algumas das principais partes interessadas para encontrar soluções para “fortalecer sua posição financeira de curto e longo prazo”.
A Odebrecht está sofrendo com uma queda no seu fluxo de caixa após o setor de construção da América Latina ter parado em meio às investigações da Lava Jato, que mandou alguns de seus executivos para a prisão. A holding também está reestruturando mais de R$ 5 bilhões de sua própria dívida e já usou um de seus ativos mais valiosos, as ações da unidade petroquímica Braskem, como garantia em empréstimos tomados de bancos locais, disseram as pessoas.
Dinheiro da família
A holding ainda não pagou um empréstimo de US$ 400 milhões que tomou da OEC, mas injetou cerca de R$ 900 milhões na construtora em março – usando um dos empréstimos garantidos por ações da Braskem – como um adiantamento de futuro aumento de capital para a construtora pagar US$ 500 milhões em títulos durante o período de carência, disse uma das pessoas.
O acesso a fluxo de caixa que poderia ser usado como garantia está ficando mais apertado em todo o grupo. A unidade de petróleo e gás da Odebrecht já destinou a receita de seus projetos aos detentores de seus próprios títulos de dívida em uma reestruturação no ano passado, enquanto outras duas subsidiárias, a produtora de açúcar e etanol Atvos e a Odebrecht Realizações Imobiliárias, também estão em processo de reestruturação de suas dívidas, segundo as pessoas.
Alguns detentores de títulos da dívida da OEC sugeriram que a família Odebrecht pusesse dinheiro para aumentar o capital de giro da construtora, ajudando a financiar novos projetos para produzir fluxo de caixa, segundo pessoas a par da proposta. A dívida total do grupo Odebrecht é de R$ 76 bilhões, segundo uma pessoa com conhecimento das finanças da empresa.
Acordo no Peru
A Odebrecht conta com a venda de ativos no Peru para amortizar dívidas, incluindo o projeto hidrelétrico de Chaglla, que o grupo concordou em vender para a China Three Gorges, em agosto de 2017, por US$ 1,4 bilhões. Mas é pouco provável que os credores da construtora vejam esse dinheiro, já que parte dele vai pagar indenização por corrupção ao governo peruano e quase todo o restante será pago aos credores do projeto em si, conforme Bloomberg relatou anteriormente.
O pouco que sobrar, se sobrar, vai para a dona do projeto, a Odebrecht Energia, e, quando essa empresa se dissolver, vai para a holding, disse uma das pessoas. Tudo depende do acordo com o governo do Peru, disse a pessoa.
A venda no Peru, no entanto, deve beneficiar a Odebrecht e seus credores no longo prazo, uma vez que reduz os pagamentos futuros da dívida, ajudando a preservar o caixa e permitindo que o grupo venda outros projetos no país e participe de novas licitações, disse uma pessoa familiarizada com o negócio.
A OEC, que já foi a maior construtora da América Latina, está queimando cerca de US$ 150 milhões por trimestre e tinha US$ 456 milhões em caixa em junho, estimou a Moody’s Investors Service. A estrutura de capital da empresa é “insustentável”, considerando sua liquidez apertada, encolhimento da carteira de projetos e perspectivas desafiadoras do setor, disse a agência de classificação de riscos.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.