Oito aspectos do relatório de empregos dos EUA

Por Mohamed A. El-Erian.

No dia seguinte ao ataque militar dos EUA contra a Síria e em meio à reunião de cúpula entre o presidente americano, Donald Trump, e o da China, Xi Jinping, a divulgação do relatório mensal de emprego do país norte-americano, nesta sexta-feira, está recebendo menos atenção do que o normal. Contudo, o relatório sobre a saúde do mercado de trabalho em março é importante para avaliar a força subjacente da economia e traz implicações para as políticas. A seguir, confira os oito principais aspectos:

1. Com 98.000 novos empregos, o aumento das folhas de pagamento em março foi muito inferior às expectativas de consenso de cerca de 180.000 e à estimativa revisada de fevereiro, de 219.000. O clima ruim explica apenas parte dessa grande diferença, mas o quadro geral do mercado de trabalho não é tão frágil quanto essa métrica amplamente mencionada sugeriria.

2. O crescimento da média móvel trimestral do emprego é de quase 180.000 — um número sólido para esta fase de uma sequência histórica do mercado de trabalho que registrou a criação de mais de 16 milhões de empregos desde o pior momento da crise financeira global.

3. Os sinais de força subjacente são reforçados pelos declínios do amplamente acompanhado índice de desemprego (de 4,7 por cento para 4,5 por cento), do menos mencionado, mas mais abrangente indicador U6, que contabiliza mais trabalhadores de meio período e desencorajados entre os desempregados (para 8,9 por cento) e do emprego de meio período em geral.

4. Também é encorajador o aumento anual de 2,7 por cento nos salários, em linha com as expectativas de consenso — apontando para uma transição gradual do motor de crescimento do consumidor que se beneficiará agora do crescimento salarial e também do crescimento do emprego.

5. Menos encorajadora é a taxa de participação da mão de obra, que continua paralisada em 63 por cento, ressaltando barreiras duradouras para pessoas que deixaram de procurar emprego, mas querem retornar ao mercado de trabalho. A taxa de emprego em relação à população continua muito baixa, em 60,1 por cento — um problema que continua freando o potencial de crescimento.

6. Olhando para a frente, o relatório de empregos de março justifica alguma cautela quanto à rapidez com que o impressionante aumento dos indicadores de sentimento, tanto para o setor doméstico quanto para o corporativo, se traduzirá em dados concretos mais favoráveis.

7. O Congresso agora deverá sofrer uma pressão maior para levar adiante as medidas pró-crescimento defendidas pelo governo Trump. Além disso, essas medidas precisariam ser expandidas ao longo do tempo além dos investimentos em infraestrutura que facilitam uma produção e uma produtividade maior do setor privado, além da reforma fiscal que estimula o crescimento e além da desregulamentação cuidadosa que melhora a eficiência sem minar a solidez e a segurança.

8. O relatório de março complica um pouco as escolhas de política monetária do Federal Reserve devido aos dados conflitantes. Mas não deverá impedir o Fed de continuar projetando mais dois aumentos dos juros em 2017 após a alta de 0,25 por cento do mês passado. O mais provável é que eles ocorram no contexto de uma mudança gradual das políticas destinadas à normalização ordenada das taxas de juros e do balanço; e esse contexto é aquele no qual o Fed continuaria passando cuidadosamente da condição de acompanhar os mercados para a de liderá-los.

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